Pela terceira vez no Brasil, The Drums apresenta seu mais recente disco “Encyclopedia”, no Popload Gig, show realizado na capital paulista
[Por Natasha Ramos]
A banda nova-iorquina The Drums subiu ao palco do Cine Joia, casa de shows localizada na região central de São Paulo, por volta das 22h30 de quarta-feira (05), entoando os sombrios sons eletrônicos de sua “Bell Laboratories”, a música mais creepy de seu novo disco Encyclopedia, lançado este ano, depois de quase três anos sem lançar nada novo.
O vocalista Jonathan Pierce (Johnny para os íntimos) e sua jaquela vermelha sob iluminação igualmente vermelha e dramática era o único integrante que se conseguia ver neste momento. Na segunda música, “Let Me”, também do último disco, Jonathan era só punhos e movimentos inusitados, no que seria sua dancinha esquisita à Morrisey.
“Me and the Moon”, do disco de estreia homônimo (2010), foi a primeira música das antigas que a banda tocou no show. Neste momento, a banda “emerge” da penumbra em que se encontrava o palco, quando mais luzes iluminaram os demais integrantes, que atuaram mais como coadjuvantes de Pierce e do multi-instrumentista Jacob Graham, fundadores e dupla oficial da banda. O duo recrutou os músicos para renovarem o som da banda ao vivo e viajarem o mundo com a nova turnê que teve o Brasil como um de seus primeiros destinos.
Para quem prometeu “uma volta às raízes” no show realizado na capital paulista, até que Johnny-boy e cia. enfatizou bastante as músicas do novo disco, que representa uma nova fase da banda, com um som mais maduro e menos direto como os dois álbuns anteriores. Na sequência, vieram mais duas do Encyclopedia “I can’t pretend” e “Kiss me again”. “Estávamos nos sentindo um tanto irritados e confusos. Então fizemos este álbum com honestidade, o que também não significa que vamos deixar as pessoas desconfortáveis. Trocamos a praia por um lugar mais alto, sempre em busca de esperança”, disse Johnny na ocasião do lançamento do disco à revista norte-americana SPIN.
“This next song is about my dead best friend”, disse Johnny antes dos primeiros acordes de “Best Friend”, que veio seguida de “Book of Stories”, ambas do disco de estreia, que animaram muito mais os hipsters convictos presentes na plateia do que as músicas novas. “Money” e “Book of Revelation”, ambas do segundo disco Portamento (2011), vieram na sequência.
Curioso notar o comportamento excentricamente blasé de Graham que se alternava entre o teclado, as programações eletrônicas e a meia-lua. Ele ora fazia movimentos fluídos com as mãos acompanhando a melodia da música, enquanto sustentava no rosto uma expressão de paisagem, ora, com a mesma expressão indiferente, tocando a meia-lua, congelava completamente seus movimentos para, sem avisar, voltar a tocar em seguida.
Neste show, muitas canções dos trabalhos anteriores ganharam uma nova roupagem, com a incorporação de elementos eletrônicos, que soaram bem, como em “How it Ended”. Após a última faixa, a banda sai do palco para voltarem em seguida, após a aclamação do público -que, apesar de não serem numerosos, eram, pelo menos, bastante animados.
No retorno ao palco, Johnny parecia diferente, talvez, porque já não vestia sua jaqueta vermelha, mas, além disso, ele parecia uma versão renovada e juvenil do vocalista que cantou durante todo o show. Não por acaso, as três músicas tocadas no BIS foram singles do disco de estreia, quando a banda era só frescor: “Forever and Ever Amen”, que estabeleceu clima festivo entre banda e público; seguida de “Let’s Go Surfing”, música que os tornou conhecidos em 2010 e cujo clipe são os integrantes do Drums correndo despreocupadamente na praia à noite. A apresentação se encerrou com a lentinha “Down By the Water”, com direito a coro da plateia.
Com cerca de uma hora e meia de duração, o show pareceu ter sido bem mais curto do que de fato foi. Ao final, um dos fãs dá um pulo e sobe ao Palco, para abraçar o vocalista que timidamente retribui, provando que a atitude blasé da banda é mais fachada.
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Espécie de uma releitura torta dos Smiths nos anos 2010, com um som que passeia pelo indie pop e bebe na fonte do rock alternativo dos anos 80 e de bandas como Joy Division, New Order e The Wake, a Drums surgiu no Brooklyn e conquistou seu espaço em 2010, com seu álbum de estreia homônimo. No ano seguinte, lançou seu segundo disco, o aclamado “Portamento”. Desde então, o Drums virou trio, chegou a ser um quarteto, mas agora retoma sua formação original enquanto duo, “para poder explorar mais sua sonoridade”, como tem falado o frontman Johhny em entrevistas recentes. Esse show no Popload Gig marcou a terceira passagem do Drums pelo Brasil. O grupo tocou no extinto Estúdio Emme em março de 2011 e no festival Planeta Terra um ano e meio depois. ::