Los Campesinos! animam público paulista mesmo debaixo de chuva
Pela primeira vez no Brasil, a banda galesa Los Campesinos! mostrou aos fãs brasileiros logo nos primeiros acordes do show que os ânimos não seriam abalados por conta da chuva insistente que caia sobre São Paulo. A banda tocou antes escocesa oitentista Jesus and Mary Chain, headliner do 18º Festival da Cultura Inglesa, que rolou no Memorial da América Latina, na capital paulista.
Durante a apresentação, o vocalista e responsável pelas letras da músicas, Gareth Paisey (ou Gareth Campesinos! —sim, à exemplo dos Ramones, eles usam o nome da banda como sobrenome), deixou claro que tocar no país do futebol foi um dos pontos fortes da carreira de oito anos e cinco álbuns do grupo.
Apaixonado pelo esporte, o frontman não economiza metáforas futebolísticas em suas composições. É o caso de “Avocado Baby” e “Portrait of Trequardista”, do último disco No Blues (lançado pela gravadora independente Wichita Recordings, em 2013). Além das músicas do mais recente disco, o show da banda contou também com hits dos álbuns anteriores: Hold on Now, Youngster… e We Are Beautiful, We Are Doomed (ambos de 2008), Romance Is Boring (2010) e Hello Sadness (2011).
Outra canção que faz referência ao futebol é “Let it Spill”, na qual Gareth declama: “Béla Guttmann of love /curse all of my exes to a life of celibacy” (Béla Guttmann do amor/Amaldiçoe todas as minhas ex-namoradas a uma vida de celibato”). Para quem não faz a menor ideia de quem seja o dono do nome supracitado aqui vai a explicação: Béla Guttmann foi um jogador e treinador húngaro que fez sucesso no início do século 20. Treinou e foi campeão com o Milan e o Benfica e chegou a treinar o São Paulo Futebol Clube e ser campeão (aqui, conhecido como Gutmann Béla; foi ele quem exigiu a contratação de Mestre Ziza).
A paixão de Gareth pelo futebol é tamanha que se mescla com seu trabalho à frente dos Campesinos! e extravasa na função de um dos diretores da Welton Rovers F.C., clube de futebol inglês, do qual faz parte desde 2012.
Todas essas conexões futebolísticas com a banda, no entanto, não vão muito além disso. O nome Los Campesinos!, por exemplo, não tem nenhum link com o esporte. Segundo Gareth, a banda procurou um nome que pudesse ser pronunciado e ouvido por todo mundo, e que todos compreendessem. A escolha, ainda, teve a vantagem de, por ser em espanhol, ter aberto as portas para a banda tocar em países da América Latina, como Argentina, Colômbia e Venezuela. No Brasil, no entanto, eles foram escolhidos para tocarem no festival por serem uma banda britânica.
Apesar da banda ter sido formada na Universidade de Cardiff, na capital do País de Gales, Gareth e cia. —Neil Campesinos!, Tom Campesinos!, Kim Campesinos! e Rob ‘Sparky Deathcap’ Campesinos!— não são de lá, mas de outras cidades britânicas. Talvez essa mistura de regiões seja um dos fatores que faz com que o som dos Campesinos! tenha não só uma pegada de bandas galesas como Super Furry Animals, mas também remeta, em muitos momentos, às bandas indie-rockers norte-americanas.
Em diversas entrevistas, inclusive, Gareth já deixou claro que o som deles, principalmente no início da carreira, sofre muito mais influência de grupos da terra do Tio Sam, como Pavement, Sonic Youth e Dinossaur Jr., do que por bandas inglesas. De 2006, quando começaram, para agora, o som da Los Campesinos! deixou de ser mero indie rock festivo, para incorporar elementos mais experimentais em suas composições.
Durante o festival paulista —cujo equipamento de som não estava lá essas coisas (o grave reverberava com uma potência significativamente mais alta que os outros instrumentos)—, essa mistura de um som pop alegre, mas experimental ao mesmo tempo, da banda galesa contrastou com o pós-punk niilista do Jesus and Mary Chain,que tocaria logo em seguida — mas, o público não pareceu se importar.
- As Lucerne/The Low
- By Your Hand
- Romance Is Boring
- What Death Leaves Behind
- Hello Sadness
- Death to Los Campesinos!
- For Flotsam
- We Are Beautiful, We Are Doomed
- Cemetery Gaits
- Avocado, Baby
- You! Me! Dancing!
- The Sea Is a Good Place to Think of the Future
- Sweet Dreams, Sweet Cheeks