[Por Andréia Martins]
A primeira coisa que Elijah Wald diz quando é perguntado sobre a relação entre o filme Inside Llewyn Davis e o cantor Dave Van Ronk (1936-2002) é que não se trata de uma biografia. O músico e escritor, com quem conversei por telefone, é coautor do livro de memórias de Van Ronk, The Mayor of Macdougal Street, publicado em 2006, e amigo de longa data de um dos ícones do Greenwich Village, bairro de Nova York (EUA) que reuniu alguns dos grandes nomes do folk norte-americano em meados da década de 1960.
Esse mesmo livro serviu de base para os irmãos Joel e Ethan Cohen criarem o universo de Inside Llewyn Davis, em cartaz nos cinemas brasileiros. O filme mostra uma semana na vida de Llewyn Davis (Oscar Isaac), um cantor de folk que tenta viver de música na Nova York dos anos 1960, passando noites em sofás, trens e bares em busca de uma audição, apesar do inverno rigoroso que faz na cidade. Parte da história foi inspirada na vida de Van Ronk, outra parte, fruto da imaginação dos diretores.
Quem ler sobre Bob Dylan, Joan Baez, Joni Mitchell e outros artistas da cena folk daquela época, vai encontrar o nome de Dave na história de cada um deles. Dylan dizia que queria ser Van Ronk quando crescesse, o cara que viveu toda a vida em Nova York sem nunca ter alcançado o sucesso dos mais novos que recebeu e viu chegar e partir do Village.
“Ele só queria ganhar dinheiro com a música dele. Mas nunca conseguiu”, diz Wald, para quem o grande feito do filme é colocar Van Ronk em evidência de novo. “Quando pensei que alguém do Brasil fosse me ligar para falar sobre ele?”, comenta ele. Depois de uma conversa sobre o amigo e o filme, ele listou três discos para os leitores do Palco Alternativo que para ele são essenciais para conhecer Dave Van Ronk.
FOLKSINGER (1963)
“Esse disco foi o que estabeleceu Dave como cantor em 1963. Toda a música que você ouve no filme tem a vibração desse disco”, comenta Wald. Entre as músicas de destaque: “Cocaine Blues”, “Come Back Baby” e “Hang Me, Oh, Hang Me”, que está na trilha do filme, interpretada por Oscar Isaac.
NO DIRTY NAMES (1966)
“Esse disco elleva Van Ronk a outro nível na cena. É possivelmente meu disco preferido”, comenta Wald. O disco traz muitas canções que não foram escritas por Van Ronk, como “The Old Man”, de Bob Dylan, “One Meatball”, de Josh White, “Song Of The Wandering Aengus”, de William Yeats e Judy Collins, entre outros. Mas quando ele coloca seu nome é na incrível “Zen Koans Gonna Rise Again” um tributo à MacDougal Street, que mais tarde serviria de apelido para o próprio, chamado de o ‘prefeito da rua MacDougal’. “Algumas das suas principais performances foram com músicas desse disco.
SUNDAY STREET (1976)
“Nesse momento Bob Dylan já tinha trazido mais rock para o folk. Dave entrou nessa como todos na época, meados dos anos 1970”, diz Wald. O disco traz canções que unem apenas a voz e a guitarra de Van Ronk, em um verdadeiro retorno às raízes. Destaques para a faixa que dá nome ao disco, ao lado de “Down South Blues”, “Mamie’s Blues”, “Would You Like to Swing on a Star”, “Jesus Met the Woman at the Well”, “That Song About the Midway”, releitura da canção de Joni Mitchell, entre outras.