[Por Natasha Ramos]
Vinte anos na estrada não é para qualquer um. Principalmente, quando a maior parte dessa carreira situa-se no underground brasileiro. Também se deve levar em conta que, há duas décadas, não havia as facilidades tecnológicas que as bandas que iniciam atualmente têm à disposição. “Hoje, qualquer pessoa pode fazer suas demos ou até um trabalho inteiro, com masterização e tudo em casa, isso é bom demais”, comenta Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish, que lançou esse ano o DVD Hardcore do Terceiro Mundo – Ao Vivo no Circo Voador, em comemoração aos 20 anos de carreira do grupo.
Quando a banda começou, no início dos anos 1990, a divulgação era feita por meio de cartas (sim, dessas que se envia por correio) ou, caso o grupo estivesse inserido em uma grande gravadora, anúncios em TV ou revistas especializadas. Muito diferente de como é hoje, quando as pessoas têm acesso a qualquer banda com um simples clique em seu computador. “Quando começamos, escrevíamos para os selos ou pra alguma loja, tínhamos que ir atrás, sair de casa, perguntar, ser curioso e trocar ideias, acho que isso não existe mais justamente por causa da facilidade toda”, comenta Rodrigo.
Essa atitude do “faça você mesmo”, que sempre pautou o modus operandi do Dead Fish, levou os caras a criar seu próprio selo: o Terceiro Mundo Produções Fonográficas, em 1999, pelo qual foram lançados seus três primeiros álbuns – Sirva-se (1998), Sonho Médio (1999) e Afasia (2001). O Selo também lançou bandas como Noção de Nada, Shame, Sugar Kane, AOK e Undertow.
“Fazíamos de tudo: desde marcar os shows do Dead Fish até a merchandise. Também bancávamos nossas gravações e sessões em estúdios. O selo durou até 2003, quando um dos integrantes da banda saiu depois de uma longa tour pelo Brasil”, conta.
Durante esse tempo, o Dead Fish recebeu convites para assinar com gravadoras, como a Deck Disc, em 2001. Mas, segundo Rodrigo, naquela época, não parecia vantajoso. “O Selo ia bem, estávamos focadíssimos em estar na estrada, produzirmos nós mesmos e tudo vinha dando muito certo”, explica Rodrigo.
“Quando chegou 2003, a banda estava cansada e o selo não ia bem porque ficamos quase um ano na estrada e precisávamos ter alguém cuidando só disso. Erramos, e o selo ficou mal das pernas, o que afetou tudo: desde a banda internamente até a saúde financeira do selo. A banda e o selo iam acabar, mas, no fim, recebemos uma nova proposta do Rafael Ramos da Deck Disc. Assim, resolvemos fechar só o selo e continuar com a banda de outra forma”, continua.
Diferente do que acontece com muitas bandas independentes que, ao assinar com uma gravadora, modificam o som para se tornar mais mainstream, os caras do Dead Fish continuam fazendo o que querem da própria música. Segundo Rodrigo, modificar o próprio som em função de exigências corporativas é um “tiro de 12mm no pé”. “Eu sei de gente que teve que lidar com isso logo que assinou. Acho que funciona se tu quer ser o “herói da massa” por uns meses, talvez alguns anos, mas acho que depois deve ser uma ressaca terrível não ter feito o que tu queria da tua música, mesmo que tenha ficado rico ou algo assim. A gente ficou pobre e orgulhoso”, comenta.
“O Dead Fish fez um álbum como o “Zero e um” (2004) que, para mim, é o melhor da nossa carreira depois que entramos na Deck. Eu acredito que a mudança foi pra melhor em todos os aspectos”, completa. Depois do “Zero e Um”, vieram ainda “Um Homem Só” (2006) e “Contra Todos” (2009).
Registro ao vivo e filme
Gravado ao vivo no tradicional Circo Voador, no Rio de Janeiro, e dirigido por Daniel Ferro, a apresentação do DVD Hardcore do Terceiro Mundo, composta por 30 músicas da carreira do grupo, teve apenas uma chance de dar certo, sem regravações, nem firulas. “Era apenas uma noite e uma gravação. Estou muito satisfeito com o resultado do DVD, não foi o nosso melhor show no Circo Voador, mas foi o mais emblemático, tinha gente do país inteiro lá celebrando com a gente”, diz Rodrigo.
Os caras ainda pretendem fazer um filme sobre a banda, com previsão de lançamento em 2013. “Conseguimos uma verba federal e agora estamos na fase de vender os bônus para executarmos ele no ano que vem. Já temos uma equipe para filmar, gente que entende do assunto, e será de novo parte um registro ao vivo, mas com uma história, cenas antigas, algumas curiosidades e um lance menos restrito só à banda e seus integrantes.”