[Por Andréia Martins]
Se eu encontrasse Robert Crumb teria uma pergunta especial para um dos ícones do mundo underground da HQ: como foi receber um pedido especial de Janis Joplin para fazer a capa de um de seus discos?
Chip Trills não é um desses discos importantes apenas pela música. O segundo e último disco da banda Big Brother and the Holding Company, com Janis nos vocais, tem a sua capa assinada por Crumb. A ilustração que estampa a capa do disco de 1968 era para ser na verdade a contracapa, mas Janis gostou tanto dos desenhos que decidiu que aquela seria a capa.
Nos quadrinhos da capa, as músicas e os integrantes da banda são apresentados nos balões, enquanto Janis ganhou sua versão crumbiana, com todas as caraterísticas que o autor atribui às mulheres em suas ilustrações: peitos grandes, coxas e braços grossos.
Poucos sabem, mas a incursão de Crumb por esse universo não se resumiu apenas a esse pedido de Janis. Ele ilustrou trabalhos, pôsteres e outras peças musicais para gente como James Brown, Frank Zappa, Gus Cannon, George Jones, Woody Guthrie, MTV, entre outros novos artistas e ícones esquecidos do blues e do jazz feito entre os anos 20 e 30, esses últimos, os verdadeiros xodós de Crumb.
No livro Minha Vida, uma compilação das tiras de Crumb, ele conta no início da carreira a música foi uma ferramenta de trabalho, e que ele costumava se inspirar em canções antigas de jazz e blues para criar seus personagens.
Entre 1974 e 1984, Crumb fez umas 17 capas, e nos anos seguintes continuou no ramo, sempre optando por artistas peculiares. Criou capas para dois discos do The Beau Hunks (entre 1992 e 1993), uma antologia de músicas tradicionais francesas (2009), Greatful Dead, entre outros.
As capas de Crumb foram reunidas em um livro, R. Crumb: The Complete Record Cover Collection, que traz ainda pôsteres e outras ilustrações musicais feitas por ele. Na web, há um vídeo disponível em que Crumb fala das duas paixões, a música e os quadrinhos:
Claro que, com um gosto e tanto pela música, não é de se estranhar que Crumb tenha tentado a sorte com sua própria trupe, a Cheap Suit Serenaders, com um repertório todo dedicado a músicas mais antigas. Crumb era o frontman da banda, tocava banjo (e ainda ukulele e mandolim) e, claro, desenhou a capa dos três discos do grupo (todos levam o nome da banda seguidos dos números 1, 2 e 3).
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Só relembrando…. Cheap Trills, o disco
O grande hit do disco foi “A Piece of My Heart”. Com certeza foi um dos facilitadores para que o álbum chegasse ao topo da Billboard e fosse um dos lançamentos mais bem sucedidos de 1968. A gravação também justificava o porquê de Janis deixar a BBHC: uma avalanche vocal que só, ela precisava alçar novos voos, dessa vez, sozinha.