Trio potiguar prepara álbum que foge do “rockão” mas vai de encontro ao radical
Já era noite e a comedoria do Sesc Pompeia recebia um público empolgado e que já sabia: nas próximas horas aconteceria ali um espetáculo visceral, afinal, o trio potiguar Far From Alaska subiria ao palco. Mas pera aí, rocker. O show do FFA continua radical, seja pelas presenças de Emmily Barreto (vocais), Cris Botarelli (Steel Guitar, Sintetizador e vocais) e Rafael Brasil (guitarra) ou mesmo pelas canções, que agora trazem o “radical” não em uma sonoridade pesada, mas na saída da zona de conforto com canções que emulam modernidade a partir de experimentações.
Esse novo projeto, que foge do tradicional, tem nomes além dos integrantes da banda: Lucas Silveira, da banda Fresno e o produtor musical Gabriel Souto e começou em Outubro de 2022, época do lançamento do EP 3.1. O “3.2” chegou aos serviços de streaming em Março de 23 e no início do ano o mais recente, “3.3”, complementa o trio.
Conversamos com Cris Botarelli a respeito dessa nova fase da banda.
Confira:
Palco Alternativo: Já são 12 anos de estrada e agora vocês fogem da zona de conforto, incorporando sonoridades mais pops e eletrônicas, além de uma aura mais acolhedora, como foi nos mostrado no 3.3. Por que este era o momento para sair da zona de conforto?
Cris Botarelli: Eu acho que nunca deixamos de sair. O Far From Alaska tem uma inquietação desde sempre nas composições, a gente sempre quer ir mais fundo na gente mesmo pra entregar algo que seja verdadeiro e ressoe conosco. No início da banda rolaram muitos rótulos quanto ao nosso som. De stoner rock, new metal, classic rock… E a gente não se enxergava completamente em nenhum deles. Acho que desde então a gente vem tentando descobrir onde se encaixa, mesmo sabendo que a resposta é ‘nenhum e isso não importa tanto’.
PA: Estamos em vias de termos o terceiro álbum do Far From Alaska. Existe uma mística de que o segundo álbum é sempre o mais difícil. Como tem sido para vocês a experiência de chegar ao terceiro álbum e qual a expectativa que vocês perceberam nas pessoas ao ouvirem os 3 EPs até aqui?
Cris Botarelli: Pra nós, acho que o segundo tem muita cara de primeiro. Foi quando fizemos mesmo um trabalho consciente de compor como gostaríamos e não meio ‘na doida’. Então, o terceiro tem cara de segundo (risos). Aquela questão entre repetir o que já deu certo ou arriscar abrir o leque e tentar algo novo. Nem preciso dizer por onde a gente foi, né?
PA: “Secret” é uma música que nasceu no chuveiro e que no final chegou até o Pato Banton. Qual é a história dessa música e como foi viabilizada essa parceria com o músico britânico?
Cris: Essa música fala sobre como às vezes as pessoas levam a vida carregando um monte de tabus, um monte de certezas e verdades, como que para se proteger de sabe-se lá o que, e como isso é besteira. No nosso caso, a gente conta que na mixtape secreta da banda de “rockão”, tem reggae, pop, tem de tudo. Mas serve pra outros assuntos também. No refrão a gente diz para não se esconder atrás da ampulheta, porque a areia do tempo está correndo e já já a maré vira e você deixou de fazer um monte de coisas que gostaria por pura bobeira de manter uma imagem x ou y. Nesse contexto, Pato Banton fez parte da nossa infância em Natal, “GO PATO” é uma música muito famosa que tocou muito lá então é mesmo uma honra pra gente ter ele como feat, elevou a música para outro nível!
PA: Vocês já fizeram alguns shows tocando as músicas do “3.3” e agora, claro, são mais músicas para pensar/planejar um espetáculo. Como tem sido montar o setlist e os próximos shows, tendo em vista que agora existem mais opções de músicas?
Cris: A gente tá curtindo tanto essa nova fase que acho que vamos cair de cabeça nas músicas novas no setlist pra essa era do Far From Alaska 3! Mas claro que as mais mais sempre vão estar conosco nos shows, ou seja, acho que o show só vai aumentar (risos).
PA: Vocês são uma banda de 12 anos de carreira e que tem seguido no cenário independente. Hoje, qual o maior desafio em ser artista independente?
Cris: Seguem os mesmos desafios, conseguir lançar material audiovisual de qualidade sem tanto investimento, conseguir fazer a música chegar em mais e mais pessoas sem uma mega estrutura por trás, é difícil, tijolinho por tijolinho, mas estamos aí na atividade há 12 anos e muita coisa legal já rolou e ainda vai rolar pra nós!
PA: Temos um exemplo muito maneiro do rock brasileiro que ultrapassou fronteiras que é o do Sepultura. Existe a ambição do Far From Alaska em alcançar um lugar parecido?
Cris:Sempre existiu e sempre existirá. Onde a gente conseguir ir para mostrar nossa música a gente vai, nada mudou!
PA: Hoje vocês são um trio, não têm um baterista fixo. Qual é a posição da banda sobre essa questão, a ideia é ter sempre um baterista convidado nos shows ou vocês pensam (ou de repente já existe) em um nome para ser efetivado no cargo?
Cris: O Rapha Miranda do Ego Kill Talent tem acompanhado a gente nos shows é um match muito irado, a gente adora tocar com ele e também adoramos essa paquera com vários bateristas, dá novas perspectivas sobre nossas próprias músicas! Por enquanto segue tudo em aberto e continuamos um trio!
PA: Estamos vendo uma nova fase do FFA emergir com esse futuro terceiro disco. Como vocês definiriam essa fase?
Cris: Uma fase com mais leveza, cada vez menos sérios acerca das expectativas que as pessoas têm da gente. Acho que é o momento de se divertir, caminhamos tanto, fizemos tanta coisa, que sinto que agora a gente tem maturidade pra finalmente viver isso em sua plenitude, sem tantas preocupações, curtir mesmo!
PA: Para finalizar, para quem ainda não ouvir os 3 EPs que antecedem o disco, por que devemos ouvir as músicas novas do FFA?
Cris: Vocês devem ouvir as músicas novas do FFA porque elas estão boas demais! É sério, não é bait!!! A gente está morrendo de orgulho desse disco e não aguenta mais esperar pra colocar ele inteiro no mundo! Corre lá!