Cantora britânica lançou recentemente o disco “I Inside the Old Year Dying”, registro baseado em livro de autoria própria
É impossível decifrar PJ Harvey. Ao menos em seu último lançamento, “I Inside the Old Year Dying” (Partisan Records), que chegou em Julho deste ano nos serviços de streaming e também em LP e CD. A Polly Jean que amassava os nossos estômagos no final dos anos 90 e na primeira metade dos anos 2000, com pedradas como “To Bring You My Love” e “Dress” é totalmente diferente da cantora e compositora que se firmou a partir de “Let England Shake” (2011) pra cá. Ela agora quer mexer com as nossas cabeças.
Se “The Hope Six Demolition Project” (2016) pouco agradou os corações rebeldes, “I Inside the Old Year Dying” agradará ainda menos. O mais recente trabalho da artista é baseado no livro “Orlam”, de autoria própria, lançado em 2022 em dialeto Dorset, condado situado ao sudoeste da Inglaterra, onde a artista foi criada.
Ouvir o disco é como entrar em uma atmosfera de sonhos nada lúdicos, onde não existem formas concretas e o acaso pode acontecer a qualquer momento. Neste passeio sonoro, encontramos passagens bíblicas e citações a Shakspere. Instrumentalizações folclóricas e eletrônicas.
Em alguns momentos, a voz de PJ quase estoura aos ouvidos de tão aguda, artifício colocado, claro, propositalmente. É assim na faixa “Autumn Term” e também “Lwonesome Tonight”. Colocar-se ao máximo, na maioria das vezes, vai ao desencontro da sonoridade do álbum, experimental, sim, mas calma e aconchegante. A mistura não é tão palatável, o que faz com que você precise ouvir o disco mais de uma vez para se apaixonar por ele (ou ao menos gostar). A produção e mixagem é assinada por John Parish e Flood, respectivamente.
Segundo reportado em release, o álbum acontece em um espaço situado entre o oposto da vida, a história recente e o passado. Este é um disco em que suas faixas não foram feitas para serem executadas em constantes repeats. É um pacote, e isso serve também para as músicas mais receptivas: “A Child’s Question, August” e “I Inside The Old I Dying”. É um álbum cético, sem pretensões de alcançar qualquer ranking que seja. Ainda assim é mais um da safra “cult”, rótulo este fragmentado em PJ de 2011 pra cá. Se isso é bom ou ruim, vai depender da sua cabeça. O fato é, se for ouvir “”I Inside the Old Year Dying”, ouça-o por inteiro, ainda que não tenha o menor significado para você.