Disco calcado no shoegaze e no dream pop marca a estreia da banda
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“Ninguém me dirá quem sou e nem saberá quem fui”. Essa é a frase que marca o final de “Ninguém Por Enquanto“, faixa que abre o disco “Futuro“, da banda Tarda. Este não é um álbum tão fácil de se entender e talvez existam vários entendimentos dentro dele. O que podemos dizer é que é um registro existencial, melancólico e de paredes sombrias. Em caráter humano, “Futuro” nos traz a sensação que o caos entranha nas veias aos poucos, mas há, sim, beleza nisso. Tal qual como a frase colocada no início deste texto, retirada de um poema de Fernando Pessoa e incrivelmente conectada ao disco, talvez seja melhor sermos imperceptíveis diante ao turbilhão de coisas inexplicáveis que chamamos de humanidade.
As referências não param em Pessoa. Hilda Hist, Dilma Roussef e Clarice Lispector também são personagens que intervêm em “Futuro”, diante de colagens sonoras.
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A banda é formada por Sara Não Tem Nome, Paola Rodrigues, Victor Galvão, Randolpho Lamonier e Julia Baumfeld. O projeto integra as múltiplas atuações das artistas entre os campos das artes visuais, música e audiovisual, abordando deslocamentos emocionais e cognitivos que caracterizam as tensões de identidade nas relações humanas e fluxos caóticos de informação. Até por isso, não é surpresa que o registro seja tão visual, ainda que não palpável de fato.
“Futuro” é como mergulhar na escuridão, ou, então, quando se fecha os olhos e não se sabe mais se você está dormindo ou acordado. A capa, idealizada por Randolpho, mostra uma “cama-embarcação”, onde os integrantes da banda estão em direção para algo além do plano físico.
Entre as absorções sonoras dessa viagem, o grupo lista Shoegaze e o Dream Pop, com influências do Post Rock. A sonoridade, embora já dita melancólica, é por vezes pesada como uma tempestade. O futuro é um universo desconhecido, porém o caminho que quiçá nos leve até lá é fomentado por desejos, desilusões, sonhos e pesadelos.