Por Ricardo Leite
A banda sergipana The Baggios, já tem 16 anos de estrada, seguiu alimentando suas redes com lançamentos, mesmo nesse momento de pandemia, está finalizando um documentário sobre o seu mais recente disco, Vulcão, de 2018, além de trabalhos paralelos de seus integrantes, ou seja, segue trabalhando e criando mesmo em quarentena.
Júlio Andrade – o Julico – conversou remotamente com o Palco e falou sobre os planos da banda para o pós-pandemia, comentou sobre a produção artística nesse momento e também o trabalho para o próximo álbum.
Palco: O nome The Baggios surgiu em homenagem a um músico andarilho da cidade histórica de São Cristóvão, onde surgiu a banda. Essa escolha do nome tem alguma relação com a proposta de som de vocês?
Foi uma homenagem a um músico sonhador da cidade de São Cristóvão. A banda foi formada em 2004 na cidade de São Cristóvão, uma cidade que não tinha muita perspectiva na música que nós estávamos querendo fazer, focada no rock, no experimentalismo. Eu via alguém interessante no Baggio, ele contava histórias sobre as suas tentativas de viver da música, de levar demo em TV e rádio, pegar carona para viajar a outros estados. Tudo isso foi inspiração para mim pessoalmente, não influenciou na parte sonora, mas inspirou além do nome da banda.
Após o disco Vulcão, que recebeu indicação ao Grammy, como está a construção do próximo álbum? Comentem mais sobre o recém lançamento, a música “Hendrixiano”? E o que podemos esperar deste quinto disco de estúdio?
O Vulcão nós conseguimos trabalhar de maneira esparsa no Brasil, mas fizemos turnê na Europa, fizemos clipes e o disco está na sua parte final. E “Hendrixiano” é uma das músicas que a gente resolveu soltar de maneira esporádica para alimentar nossas redes e também nossos fãs. Apresentar algo relevante para o momento, de segurar a onda diante desse confinamento e restrições que estamos passando.
Hendrixiano é uma música mais rockeira, um estilo que a banda nunca perdeu e tivemos espaço para experimentalismos. Para a gente, é importante também receber os comentários dos fãs e sentir as reações a esses trabalhos e pensar algo como um álbum mais para a frente.
No momento o álbum 5 da The Baggios ainda está sem um molde, mas temos ideias e temos algumas músicas que serão aproveitadas. Temos demos desse ano e também do ano passado, podemos seguir o caminho do Hendrixiano e também temos outros espaços que podem ser ocupados no próximo disco.
Aproveitando que essa nova música, “Hendrixiano”, foi lançada no dia da morte do Jimi Hendrix, como vocês definiriam a influência do músico para a The Baggios?
No início, a banda era muito definida pela guitarra, éramos um Duo (guitarra e bateria) e eu sempre fui muito fã de blues. O Hendrix me mostrou de uma forma mais “torta” como é o novo blues e aquele rock dos anos 60 e ele me forçou a buscar caminhos não engessados e experimentar com a guitarra e isso é um incentivo para qualquer artista. Hoje, ouço a obra dele e me sinto uma pessoa aprendendo ainda. Quando penso em renovar, buscar algo novo, ele me inspira. E a música negra que está aflorada no som do Hendrix é algo que me acompanha desde que eu conheci ele e é o caminho também que me fez gravar o álbum solo (Ikê Maré).
Como foi a produção e os planos de lançamento do documentário sobre o disco Vulcão?
Desde o primeiro álbum, a gente se preocupou em registrar os momentos emblemáticos (processo de gravação, clipes, shows). A banda e o audiovisual andam muito juntos quando se pensa na obra como um todo, a música provoca imagens, cenários situações, então por isso a gente deu muito valor para representar algumas coisas em imagens.
No Vulcão a gente fez isso, tivemos o Edu Freire que foi nosso cinegrafista e acompanhou todas as fases do álbum, inclusive os shows, como o show da banda em São Cristóvão (cidade da banda) para um público de quase 30 mil pessoas, num festival icônico da cidade. Nessa produção não narramos não apenas a parte técnica e de construção das músicas, mas também o que está por trás da produção, a discussão além da música, a descoberta, as ansiedades, o autoconhecimento, o valor da cultura popular e a importância de conectar a múscia da região com outros lugares. O documentário é mais uma etapa da divulgação do álbum Vulcão e ano que vem vamos virar essa página e começar os trabalhos do que pode ser o próximo álbum.
Como está o processo criativo e a rotina da banda nesse momento?
O disco solo que tenho para lançar foi gravado no período de pandemia e entre março e julho gravei os instrumentos, é um disco bem caseiro na produção e me prendi a ele para me salvar no sentido de ocupar a mente e me manter em atividade nesse momento. É um disco bonito, que me representa muito e pode ser uma continuação de uma obra da Baggios, por mais que soe diferente, mais ligado à música brasileira dos anos 70, como o Soul e o psicodelismo.
O Rafael está produzindo um álbum e trabalhando com outras pessoas também. Assim como o Gabriel que está em outros projetos também. E a Baggios segue em produção e continuamos ainda mais forte, vivendo experiências paralelas que vão fortalecer o que somos, uma banda plural com várias referências e buscando novidades para o próximo trabalho.
Já com 16 anos de estrada, como veem esse momento atípico de epidemia, quarentena, suspensão de shows e a necessidade de distanciamento?
O mundo todo foi pego desprevenido e a banda também. É especialmente difícil para uma criatura como o ser humano, que foi feito para socializar, para estar em contato com o próximo. Graças à tecnologia, de alguma maneira, a gente consegue saciar essa necessidade de compartilhamento e graças a isso não é pior. No mundo da música, e da arte em geral, somos talvez os mais atingidos no sentido de não ter previsão para a volta, voltar a tocar com segurança, com um público ativo, despreocupado. Acho que será um processo lento de restabelecer o que era o normal e no final das contas devemos estar nos preparando para o que vier, todo mundo está passando por isso em conjunto e é preciso ter muita raça para dar conta do recado.
A banda não parou porque temos lançado coisas durante a pandemia, inclusive resgatando trabalhos, e em breve vai vir mais um single. A banda está tomando todos os cuidados em relação a saúde, até porque temos pessoas em grupo de risco no nosso entorno e por isso não podemos vacilar, prezamos pela saúde.
A banda pode seguir essa transformação do mundo, porque nossa cabeça vai mudar, a música é uma extensão do ser e é impossível se prender ao passado, a gente vai seguir o que o mundo vai nos ensinar e vamos expor na música coisas que vão somar para uma possível batalha de conscientização, de um movimento que podemos precisar depois.
A música é um ato político e precisamos pensar nisso sempre.