Primeiro disco solo do cantor conta com os clássicos “Chão de Giz”, “Avôhai” e “Dança das Borboletas”
Tanto fala-se de quão genial foi Raul Seixas, os Secos & Molhados ou Belchior. E, claro, está certo falar. Porém, pouco lembrada é a obra prima que Zé Ramalho lançou em 1978. Era seu disco solo debute, com título homônimo e com riqueza imensurável diante as tantas explorações sonoras ou poéticas.
O registro tem início com “Avôhai”, um “rock rural” em homenagem ao avô do artista. Nesta faixa, o tecladista Patrick Moraz, que fez parte do grupo progressivo Yes, intervem na canção. As participações de luxo não acabam por aí: Cátia de França comanda a sanfona em “Voa Voa”, que fecha muito bem o disco; Dominguinhos, também crava participação na sanfona, porém em “Noite Preta” (Alceu Valença, Lula Cortês e Zé Ramalho); Sérgio Dias sola na guitarra como ninguém na alucinógena “A Dança das Borboletas” (Alceu Valença e Zé Ramalho) e Vinícius Cantuária dá tom ao violão na sofisticada “Meninas de Albarã”.
Por si só, os músicos que participam do álbum já chamam atenção, mas, claro, não só por isso que Zé Ramalho é um bom disco. O registro é visceral do início ao fim, mesmo em canções com centralidade na sonoridade acústica. O disco é um dos grandes do rock brasileiro, estilo esse que perderia um tanto da brasilidade nos anos 80, brasilidade essa que seria emergida novamente nos 90, com Chico Science & Nação Zumbi.
O nordeste psicodélico de Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e muitos outros já era rock, já era pesado e era também frevo, samba, sertanejo. Este álbum de 1978 é apenas uma pequena prova disso.
Podemos ficar horas citando as belezas deste disco, desde o tom épico que o coral ecoa em “Vila do Sossego” até o samba melancólico de “Adeus Segunda-Feira Cinzenta”. Mas, melhor do que falar, é ouvir. Se ainda não conhece, não se avexe em dar o play pela primeira vez. Se já conhece, vale relembrar este que é, sim, uma das obras fundamentais para a cultura brasileira.