Publicado originalmente por Lucas Lima em 30 de janeiro de 2018 no Eufonia Brasileira
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Pouco mais de 10 anos de carreira. Era isso que Marcus Vinicius, o Kamau, tinha de bagagem quando lançou seu primeiro disco solo, “Non Ducor Duco”. Álbum este celebrado neste último dia 28, no Centro Cultural São Paulo. Mas, mais do que isso, a apresentação pode ser encarada de outra maneira. Celebrava-se ali não só o “Non Ducor Duco”, mas sim a carreira de Kamau e de seus muitos companheiros acumulados na estrada.
Tudo começou, oficialmente, em 97. “No final de 96 o KL Jay me incentivava bastante. Ele perguntava: ‘por que você não rima?’ E aí eu fui fazendo alguns testes pessoais, não para o mundo. E então comecei a pesar nos caras pra fazer o Consequência, com o Sagat e o DJ Ajamu. Eles estavam pensando em fazer com outra pessoa. Esta pessoa não não apareceu e eu fiquei ali pesando, até que, em 97, começamos mesmo”, diz Kamau em uma das cadeiras vazias da Sala Adoniran Barbosa, antes da plateia entrar.
Após o inicio vieram outros grupos, como o Academia Brasileira de Rimas, Instituto, Simples e o Quinto Andar. Segundo Kamau, nenhum acabou. “Estamos em hiato no Consequência, mas não acabou”, deixa claro o cantor.
A ideia de se lançar solo começou em 2005, quando o cantor estava divulgando um trabalho com o Simples. “Quando eu fui fazer o disco com eles (Simples) eu já avisei: ‘vou fazer o álbum com vocês, mas depois vou fazer o meu”, conta.
E, aos poucos, “Non Ducor Duco” foi tomando forma, inicialmente com o nome de “Parte de Mim”, o que viria a ser a quarta faixa do disco. Mas certo dia Kamau viu um cartaz, no anúncio o lançamento de um disco com o mesmo nome que o rapper desejava para o seu registro. Teve que mudar. Colocou a dependência e a influência da cidade no título.
“A cidade influencia muito a minha arte. E o que tem a ver com a cidade? O lema, que casava com o meu momento, que era de tomar as rédeas”, declara. “Olhar para o Non Ducor Duco é pensar que as músicas ainda fazem o mesmo efeito hoje. Não é uma coisa datada”, complementa.
Mesmo assim, Kamau diz que não lançaria o disco hoje. “Eu não lançaria este álbum agora, mas, sim, poderia ser lançado”, ressalta.
Dez minutos para o início do show. Kamau desce ao camarim e a galera ocupa os espaços da Sala Adoniran Barbosa. Crianças, adolescentes, gente mais velha. O público é variado, uma das provas que a música de Kamau conquistou e segue conquistando muita gente. Com 10 minutos de atraso, Jeffe Gabriel entra junto a banda. É tocada uma introdução e Kamau, ovacionado, aparece no largo palco no centro da Sala.
A primeira música de “Non Ducor Duco” foi “Só”. Executada com um coro que parecia muito maior do que realmente era. Kamau sabe mesmo como interagir com seu público. Nos refrões, encorajava a plateia. Nas pausas das músicas, fazia piadas, falava com os músicos e com os amigos presentes.
Agradeceu muito, se emocionou e transmitiu muita emoção. Em especial nas músicas “Parte de Mim” e “Lágrimas do Palhaço”. Outro momento destes foi quando a filha do Erick Jay, a mente mais genial da banda, segundo Kamau, e comandante do toca-discos, entrou no palco. Kamau olhou para Erick e perguntou a garota quem era aquele rapaz. Então ela respondeu: “Ele é um campeão”, fazendo assim elevar um coro de “Erick Campeão” pela plateia.
Em um repertório com base no disco comemorativo e algumas canções de outros trabalhos, Kamau e banda tentaram chegar o máximo possível do “Non Ducor Duco” original, com a sensibilidade de mudar algumas coisas. “A gente teve a ideia de expandir o que poderia ser aquilo, de pensar no que poderia se tornar. É muito sentimento na música. Senti e fiz”, conta o rapper.
O show terminou com “Equilíbrio”, uma das preferidas de Kamau. O cantor contou a história da canção. Antes de lançar, ele mostrou a música ao Rashid e ele disse: “essa música é boa, mas o bom não é o suficiente para você. Você é o Kamau”. Foi então que a música foi refeita e está aí, até hoje.
O guerreiro silencioso, no palco, é um rapaz inquieto e que deixa a música entrar dentro de si. Fez centenas de pessoas ouvirem e cantarem suas canções no CCSP, isto em apenas um dia. Com um trabalho de anos, deixou na história seu nome no rap nacional.
Registro de show ocorrido em 28/01/2018
Banda formada por: Nick Gomes (bateria), Júlio Mossil (baixo), Oscar Jr. (teclado), Toca Mamberti (guitarra), Jeffe Gabriel (vocal) e Erick Jay (toca-discos).
Set List
01 – Intro/Só
02 – Instinto
03 – Parte de Mim
04 – Evolução na Locução
05 – Resistência
06 – Lágrimas do Palhaço
07 – Vida
08 – É Ela
09 – Amar é
10 – Sabadão (Os embalos de…)
11 – A Quem Possa Interessar
12 – Tudo É Uma Questão de…
13 – Equilíbrio