Publicado originalmente por Lucas Lima em 14 de julho de 2019 no Eufonia Brasileira
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A noite já ia caindo de leve e o céu da cidade de São Paulo era agraciado com uma fina e efêmera garoa, daquelas mais fortes do que se imagina. Já sem a chuva, João Paulo, o Jota.Pê, atravessa a Avenida Paulita em direção ao Conjunto Nacional. Esguio, o jovem cantor natural de Osasco caminhava com o seu característico chapéu marrom; agora marca de sua identidade, era, por ventura, um elemento para esconder sua timidez quando começou a carreira.
“Jota.Pê é um cara que ama arte, ama música e se convenceu disso lutando contra isto e agora se encontrou”, diz o artista. Antes com um pé atrás, João hoje hoje é um cara que se diverte no palco e se sente seguro em se doar por inteiro em uma carreira musical.
“Sempre tem aquele lance que todo artista passa, que é ‘ah, música não dá dinheiro’. Então cheguei a trabalhar com outras coisas, tentei deixar a música em segundo plano mas não consegui. Trabalhei na IBM, na área de programação; dei aula de design digital, mas não era o que eu queria. Chegou uma hora que decidi largar tudo, não tem jeito, tenho que trabalhar com música”.
Na adolescência, Jota.Pê até teve algumas bandas e chegou a pensar sério sobre ser músico, mas a falta de segurança na área o afastou disso.
O primeiro disco, “Crônicas de Um Sonhador”, de 2015, foi gravado durante quase dois anos. João se desdobrava entre a faculdade, shows em barzinhos, seu outro trabalho e a gravação do álbum. Mesmo ali, tendo seu registro debute em processo de idealização, o âmbito musical não era, ainda, a prioridade na vida de Jota.Pê.
Plateia cheia, a esperança do sonhador
Foi no show de lançamento de Crônicas de Um Sonhador que Jota.Pê percebeu que, sim, a música poderia dar certo. “Percebi ali coisas muito boas e coisas que eu ainda precisava trabalhar, mas que me fizeram abrir os olhos para perceber que dava para viver disto. Neste show, que eu cobrei bilheteria e tal, consegui levantar mais de quatro mil reais. Então, caramba, dá para ganhar dinheiro, dá para viver com isto se eu souber como fazer”, diz.
Jota.Pê investiu e estudou mais a questão de gerenciamento de carreira e pediu demissão do seu emprego. A partir dali, João Paulo era músico de corpo e alma, sem medo e sem receios.
“Passei um bom tempo vendo que não dá para levantar quatro mil reais em todos os shows (risos). Para manter o público já é um outro trabalho, enfim, é um caminho de descobertas e aprendizados. Tem que levar como trabalho mesmo e perceber como que funciona”, ressalta.
Quando perguntado sobre o que seria feito diferente, referente a gravação do primeiro álbum, o cantor diz: “Teve um tempo que falei, ‘poxa que legal’ e um outro tempo que eu cheguei a pensar ‘esse som não me representa, não sou eu’. Tudo que me falavam, ‘vamos gravar assim, faz o arranjo assim’, eu fazia, não tinha experiência, deixava rolar. Mas era o melhor que eu tinha para época, não coloquei a mão naquilo além das minhas composições, mas, de fato, eu ainda não entendia, era tudo novo, estava aprendendo. As coisas que estou lançando agora têm muito mais a minha cara justamente por este processo de deixar as coisas acontecerem e entender o que teve de bom naquilo”.
The Voice
Jota.Pê participou, em 2017, do famoso reality show The Voice Brasil. Lá teve como mentor o hitmaker Lulu Santos, que chegou a declarar que Jota tem uma das melhores vozes que ele já ouviu durante sua vivência no programa.
“Esta experiência foi sensacional. Ali tem muita gente que entende muito de música, então a primeira coisa que eu pensei é que teria muito que aprender ali. É uma grande oportunidade de visibilidade, mas não é a solução de seus problemas. Tem gente que entra ali e pensa que vai sair como um Gilberto Gil, um Caetano Veloso. A parte bacana de participar do programa é você não ser um ex-The Voice para sempre”, conta Jopa.Pê.
“O Lulu foi um cara mega atencioso comigo. Eu não conhecia o trabalho dele a fundo e vi que ele é genial. Tudo que ele faz dá muito certo. É um cara que, mesmo que você não goste artisticamente, tem que respeitar. Tenho muito a agradecer”, completa.
Errata Perfeita
Em trabalho para o lançamento do EP Garoa, o primeiro single lançado neste ano por Jota.Pê foi Errata Perfeita, composição de Camila Brasil.
“O legal é que cada um tem uma interpretação diferente para as músicas. Ela (Camila) nunca me disse sobre o que fala “Errata Perfeita”. Na minha visão, no sentido de um relacionamento amoroso, a música tem essa coisa de ‘eu sei que isto não vai dar certo, vai ser um grande problema, mas isso está muito bom então vamos lá’. É o lance de seja o meu melhor erro, tem este paradoxo”, conta o cantor.
A segunda faixa a ser divulgada foi “Conte Comigo”, uma parceria com Bia Ferreira, que a partir de seus poemas assina a letra da canção.
“Esse som é bem autoexplicativo. Falamos sobre estar juntos. Sobre amor… E não apenas o amor romântico, entre casais. É uma ideia maior, sabe? De estar presente nos piores e melhores momentos, sendo abrigo e combustível na vida das pessoas que amamos”.
A faixa teve produção musical de Lucas Mayer, que toca violão na música em questão. Participaram da gravação Marcelo Mariano (baixo), Kabé Pinheiro (bateria e percussão), Silvinho Erne (teclado) e Nahor Gomes (metais).
Garoa, novo EP de Jota.Pê, ainda não tem data de lançamento divulgada, mas podemos esperar um João Paulo mais maduro, seguro de si e confiante em suas decisões. Aguardemos a chuva cair.