[Por Natasha Ramos]
A música instrumental ou “extramental” (como eles mesmo definem) da Nomade Orquestra chama a atenção por onde passa. Tendo assinado com o selo inglês Far Out Recordings e excursionado pela Europa em três oportunidades consecutivas, a banda caiu no radar de jornalistas como Robin Denselow, do jornal inglês The Guardian, que classificou o som dos caras como um “inventivo fusion brasileiro com uma verdadeira visão global”.
A banda leva na bagagem quatro álbuns de estúdio – Nômade Orquestra (2014), Entremundos (2017) e dois lançados em 2019: Vox Populoli Vol. 1 e Vox Machina Vol. 1 –, além do EP de 2016, Nomade Orquestra x Victor Rice, mixado pelo renomado músico e produtor nova-iorquino.
Nascida em 2012, no ABC Paulista, a big band conta com dez integrantes na sua formação atual. No início, a Nomade foi fundada por Guilherme Nakata (bateria), Ruy Rascassi (contrabaixo), Marcos Mauricio (teclas) e Beto Malfatti (sax alto e soprano, flauta, kuisi e maracá, escaleta, MPC, teremim). Mas, não demorou muito para que André Calixto (sax tenor, flauta, kuisi, dizi), Marco Stoppa (trompete), Luiz Galvão (guitarra), Bio Bonato (sax barítono), Victor Fão (trombone) e Fabio Prior (percussão) completassem o time, que permanece firme e forte. “Somos em 10 músicos no palco, mas a família Nomade é formada por muita gente que fortalece e faz acontecer”, comenta Rascassi.
Nesta entrevista exclusiva para o Palco, a banda fala sobre a iniciativa de fazer um disco cantado (o Vox Populi Vol. 1) com convidados de peso assumindo os vocais, dentre eles Russo Passapusso, do BaianaSystem. Além disso, comentam como foi assinar com a gravadora Far Out Recordings, sobre suas turnês pela Europa, os planos para o futuro e o show no festival Saravá, que acontecerá no segundo dia do evento (15 de novembro), no Vereda Tropical, em Florianópolis.
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Palco Alternativo: A banda transita com destreza entre o universo do funk, jazz, dub, rock, afro beat, dentre outros grooves. O que motivou vocês a formarem uma banda com uma proposta musical tão diversificada?
Nomade Orquestra: Tudo começou muito naturalmente, não havia um plano de voo, nosso desejo era fazer música. Acredito que nossa sonoridade foi se desenvolvendo pela influência individual de cada integrante dentro da Nomade. Cada um dos dez tem suas referências musicais e isso, acredito, que foi determinante para a liberdade coletiva dentro das composições. Nos deu a liberdade de fazer música sem amarras ou pré-conceitos!
Palco: O primeiro disco de vocês homônimo, de 2014, foi lançado de forma independente, mas a partir do segundo disco, o Entremundos (de 2017), vocês já o lançaram pelo selo inglês Far Out Records, com o qual têm trabalhado até então. Como se deu esse processo de assinar com a gravadora? Foram eles que vieram até vocês ou foi alguma indicação?
Nomade: A FarOut chegou até nós por indicação de um grande amigo nosso Beto Montag. Isso foi um fator determinante para iniciarmos nossa jornada ao exterior. Desde então seguimos nessa constante busca de firmar nossa carreira internacional, propagando nossa musica.
Palco: Falando sobre carreira internacional, em 2016, 2017 e 2018, vocês fizeram turnês pela Europa. Tocaram em várias cidades do Reino Unido, incluindo Londres, claro; além de países como França, Portugal, Espanha, Bulgária, Alemanha, Polônia e Dinamarca. Conta um pouco dessa experiência no exterior, como foi a receptividade do público nestes outros países? Ter assinado com o Far Out foi um facilitador para essas tours aconteceram ou foi algo que rolou mais por iniciativa da banda?
Nomade: Toda jornada ao exterior é uma combinação de fatores: iniciativa, interesses, sacrifícios e sonhos. Desde a nossa primeira apresentação fora do Brasil, já conseguimos sentir o poder que a música tem, em especial a música instrumental, ultrapassando qualquer barreira, fronteiras e idiomas. Seguimos adiante e provavelmente 2020 voltaremos para mais uma tour internacional! Em breve, novidades.
Palco: Sobre os discos lançados este ano: enquanto o Vox Populi, diferente dos anteriores que eram só instrumentais, traz 8 faixas cantadas por Edgar, Russo Passapusso, Juçara Marçal e Siba; já o Vox Machina é um disco no estilo clássico da Nômade (sem voz). Por que lançar um disco cantado? Algumas letras, como a da faixa début de Vox Populi, “Ocidentes Acontecem”, é um tapa na cara do brasileiro. Tem a ver com o atual momento político que vivemos?
Nomade: Totalmente, nossa música quase sempre é sobre o presente, o passado e o futuro, sobre nossas vivências, nossas observações e percepções. Somos influenciados pelo exterior, filtramos tudo e convertemos em música. Vox Populi não foi diferente. Desde o começo, a proposta era promover esse encontro com artistas que nos relacionávamos e que representam a atual música brasileira, como nós, e cada qual a sua forma, como foi com esse quarteto fantástico. Russo, Juçara, Siba e Edgar.
Palco: Desde o começo, a Nômade Orquestra sempre teve uma preocupação com a proposta visual da banda, além, claro, do cuidado com as composições musicais. As apresentações de vocês contavam com projeções do artista plástico Danilo Oliveira, que também assinou a direção de arte dos primeiros discos. Como está isso, ainda estão rolando essas projeções? O que podemos esperar do show que vocês farão no festival Saravá, em Florianópolis?
Nomade: A gente usou isso [as projeções] bastante até o [álbum] Entremundos. Danilo Oliveira era o VJ e Renan Soares e Edgar eram os performers e tal. Mas, agora, estamos experimentando novos formatos e conceitos, que oficialmente não está nada definido, tudo em fase de transmutação.
Estamos bem ansiosos por esse show no Saravá, será a primeira vez que iremos fazer com Russo Passapusso na cidade. A participação dele possibilita a gente apresentar as músicas “Plena Magia” e “Agente Russo”, do Vox Populi, além de algumas surpresinhas para os presentes!
Palco: Quais são os planos da banda para o próximo ano?
Nomade: Lançamos 2 discos esse ano de 2019, Vox Populi em Junho e Vox Machina em Outubro, agora é continuar a nossa jornada, seguimos em composições novas de um disco instrumental provavelmente para 2021, uma remix para 2020 e Vox Populi Vol. 2 para 2020. Se tudo der certo (risos)!
VOA!