Conheça o som “post-tropicalia” da banda bike, de São Paulo
[Por Natasha Ramos]
Tudo começou em 2014, quando Julito Cavalcanti (guitarrista e vocalista) resolveu juntar algumas anotações e fragmentos de músicas para lançar um álbum. Chamou, então, Diego Xavier (também guitarrista e vocalista) para ajudar na produção. E assim nasceu “1943” (2015), disco de estreia da banda Bike, cujo nome, aliás, é uma homenagem à música homônima do Pink Floyd.
A homenagem, a propósito, não seria meramente ao acaso: indicaria um pouco do caminho que a banda tomaria: um som psicodélico, com ares de progressivo, mas que foi se desenvolvendo ao longo do percurso e tomando forma própria.
Com a proposta de “não fazer músicas de amor”, os caras cantam sobre subir montanhas para ficar mais perto do céu, e te levam com eles numa viagem astral doidona, que se diferencia de outras bandas da dita cena de bandas psicodélicas brasileira, como a Boogarins.
A Bike que, segundo Julito, atualmente, é um quinteto, mas “eventualmente um quarteto quando nosso tecladista/percussionista Brenno Balbino tem de estar de volta a Londres”, conta ainda com João Felipe Golvea, no baixo, e Daniel Danda’s (ex-Macaco Bong), está em sua terceira formação oficial, que já contou com outro baterista e baixista. “Tirando o Brenno que é de São Paulo e mora em Londres, todos são do interior do estado, no Vale do Paraíba. Ali sempre existiu uma cena onde todos se conheciam a muito tempo”, explica.
Os caras acabaram de lançar o terceiro álbum, intitulado Their Shamanic Majesties’ Third Request, com show no último sábado (09), no Sesc Pompeia, em São Paulo. O disco conta com participação do músico Tagore, nos vocais da música “Cavalo”, e contribuição de Bonifrate na faixa “Ingá”. O nome (em inglês) do álbum é inspirado nas obras dos Rolling Stones, “Their Satanic Majesties Request“(1967), e Brian Jonestown Massacre,”Their Satanic Majesties’ Second Request” (1996). Their Shamanic Majesties’ Third Request é o primeiro álbum lançado pelo selo Candango Quadrado Mágico, responsável prensagem em vinil, realizada no Reino Unido, de “Their Shamanic Majesties’ Third Request”. A pré venda do disco 180g já está disponível no site oficial da banda
Se nos primeiros álbuns, o som da banda lembrava o psicodélico de bandas como a australiana Tame Impala, a própria Pink Floyd e Beatles; neste último trabalho, a banda parece seguir um caminho cada vez mais particular. “Não tentamos nos prender a um estilo, mas criar nosso Universo”.
Para entender mais sobre o universo da banda Bike, o Palco Alternativo conversou com o vocalista, guitarrista e fundador da banda, Julito Cavalcanti . Se liga na entrevista exclusiva!
Palco Alternativo: Há quem diga que o som com pegada psicodélico de vocês os aproxima de outras bandas, como os Boogarins. O que vocês acham disso? Concordam, discordam?
Julito Cavalcanti: Já fomos muito comparados mas depois de 3 discos de cada banda é notável que cada uma seguiu um caminho diferente sonoramente, ainda que participe do mesmo nicho.
Palco: O que vocês acham do rótulo “psicodélico”? Gostam? Acham que poderia ter um termo melhor para o som de vocês?
J. C.: Atualmente, temos recebido um feedback que nosso som é post-tropicalia e estamos gostando muito. Pois, cada disco vem com uma referência e de forma muito livre. Atualmente, muitas bandas se apropriaram do termo “psicodelico” meio que no modismo atual. A gente tenta ser mais raiz.
Palco: Quais as influências de vocês? Em quais fontes a bike bebe para criar seu som doidão?
J. C.: Basicamente anos 60 e 70. Tropicália, movimento Udigrudi, o pessoal de Minas…
Palco: Como foi essa coisa de vocês terem chamado a atenção do [músico e produtor estadunidense] Danger Mouse?
J. C.: Ele gostou do nosso 1º disco e acabou lançando um single pela coletânea do selo dele, acabou nos abrindo muitas portas lá fora.
Palco: Vocês também fizeram uma turnê na gringa, né?
J. C.: Sim, ano passado tocamos no Primavera Sound, em Barcelona, além de passar por Portugal, Escócia e Inglaterra. Foi uma experiência enriquecedora e tivemos um feedback muito positivo do público gringo.
Palco: Vocês acabaram de lançar o terceiro disco da banda, Their Shamanic Majesties’ Third Request. Fala um pouco mais sobre esse disco e como ele se diferencia dos dois anteriores.
J. C.: Fizemos as músicas em janeiro com o feedback da Europa e tour nordeste do ano passado. Em fevereiro, entramos em estúdio e lançamos em março. Ele soa mais calmo que os anteriores e reflete um olhar pro interior de si mesmo depois da busca da viagem eterna [Em Busca da Viagem Eterna é o segundo disco da banda, lançado em 2017]. Tentamos usar elementos indígenas e de cultura caipira aqui da região, como a viola caipira e diversas percussões e chocalhos.
Palco: Como foi o show de lançamento, no sesc Pompeia? Tem outras datas de show?
J. C.: Foi um show muito esperado, um dos únicos que faremos este ano em São Paulo. Contou com projeções da Juli Ribeiro, que ilustrou a arte do disco novo. Faremos o lançamento do vinil em São José dos Campos no próximo dia 15, tocaremos no PicNik Festival, em Brasília, e no Circadélica, em Sorocaba, e alguns outros lugares mais.
Palco: Quais são os planos da banda para o futuro?
J.C.: Vamos tocar no festival suíço NOX Orae, no final de agosto, e com isso engatar outra turnê pela Europa, dessa vez passando pela Itália, França e retornando ao Reino Unido.