Entrevista exclusiva: Pin Ups

pin ups
“Estamos em um dos melhores momentos da banda, gravando um álbum novo e animados com a possibilidade de fazer algo diferente tanto tempo depois”, diz Zé Antônio, guitarrista da banda ícone da cena indie paulistana

[Por Natasha Ramos]

Formada em 1988, a banda Pin Ups é um dos expoentes do rock alternativo paulistano. Ao lado de bandas como Second Come, Killing Chainsaw e Wry, fizeram parte do cenário indie do início dos anos de 1990, construindo uma carreira de respeito e reunindo fãs ao longo das gerações.

Há cerca de 3 anos, a banda havia resolvido encerrar suas atividades, com um show que aconteceu na choperia do Sesc Pompeia, zona oeste de São Paulo. Mas, a apresentação foi tão emocionante e empolgante (a repórter que vos escreve estava lá), que a banda resolveu continuar.

A banda, liderada por Zé Antonio Algodoal e Alê Briganti (baixo e vocal), conta ainda com o guitarrista Adriano Cintra [ex-Cansei de Ser Sexy e Madrid] que entrou para o time nesta nova fase, Flavio Cavichioli (bateria), e está a todo vapor com um disco novo sendo preparado. Será o primeiro álbum de inéditas desde o disco Bruce Lee, de 1999. Segundo Zé Antônio, este novo trabalho deve sair no segundo semestre de 2018.

Nesta conversa exclusiva para o Palco Alternativo, a Pin Ups conta o que eles estão ouvindo, o que esperar desse novo trabalho, a entrada de Adriano pra banda e dá mais detalhes do show que acontece neste domingo (29), no Sesc Belenzinho, em São Paulo.

Palco Alternativo: No final de 2015, vocês anunciaram que encerrariam a carreira de 25 anos da banda. Mas vocês nunca pararam de verdade, né? O que motivou o retorno de vocês?

Zé Antônio: Estávamos parados, fazendo pouquíssimos shows, e sem muita motivação. Mas, de repente a nossa geração começou a ser citada em livros, documentários, etc. Muita gente voltou à ativa, bandas boas como o Second Come, Killing Chainsaw. Na época me perguntei se voltaríamos ou não. Em dois anos havíamos feito só dois shows, no Sesc Belenzinho e Virada Cultural. Decidimos que o melhor seria fazer um último show em agradecimento a todos que nos acompanharam e para as pessoas que perguntavam sobre a banda sem nunca ter visto um show. Tivemos o privilégio de conseguir uma data na choperia do Sesc Pompéia, e entramos no palco convictos de que aquela seria nossa última apresentação. Mas tudo foi tão perfeito e emocionante que no meio do show a Alê disse: “Esse é nosso último show… em São Paulo”. Na hora fiquei bastante surpreso. Recebemos tanto carinho da plateia, dos amigos, das pessoas presentes, que aquilo mexeu com a gente. Sinceramente não esperávamos aquilo. Mas, além disso, uma coisa que foi determinante e nos deixou felizes e animados, foi perceber que muita gente nova estava ali pra ver nosso show, vários pela primeira vez. Não eram apenas as pessoas que já acompanhavam o Pin Ups desde os primeiros tempos. Lembro de uma garota que veio até mim e disse que quando conheceu a banda a gente tinha parado, e que agora estava feliz, pois achava que nunca iria ver um show nosso.

Palco: Como vocês descreveriam esse atual momento do Pin-Ups?

Zé: Acho que estamos em um dos melhores momentos da banda, gravando um álbum novo e animados com a possibilidade de fazer algo diferente tanto tempo depois. Internamente a banda está em um momento tranquilo, estamos nos divertindo e torcendo que tudo isso possa ser passado a quem for aos nossos shows.

Palco: O Adriano Cintra [Cansei de Ser Sexy, Madrid], que entrou recentemente para o Pin Ups, já estava em contato com a banda, desde pelo menos 3 anos atrás, certo? Ele foi um dos convidados que subiram no palco naquele 14 de novembro de 2015, no show do Sesc Pompeia, que teve vários convidados. Conta pra gente qual a relação da Pin-Ups com o Adriano, mesmo antes de entrar na banda?

Zé: 
O Adriano sempre foi uma pessoa muito presente na cena musical. Faz muito tempo que eu queria tocar com ele, e estou muito feliz que isso aconteça no Pin Ups. Além de ser um guitarrista de mão cheia e um excelente produtor, o Adriano é uma pessoa incrível. Sempre houve uma admiração mútua e desde o primeiro momento rolou uma conexão musical muito forte, parece que ele sempre esteve na banda. E isso contribui muito para esse momento do Pin Ups. Mas, o nosso contato já tem bem mais que três anos. Em 2015, foi a primeira vez que tocamos juntos, mas faz muito tempo que o conhecemos.

Palco: No começo da carreira da Pin Ups, vocês tinham uma pegada mais shoegaze, com os dois primeiros discos, passaram por uma onda mais noise, com influências de Sonic Youth e grunge, enfim, passearam por algumas sonoridades dentro do alternativo. E agora, o que vocês têm escutado ultimamente?

Zé: A gente sempre mudou, e espera que continue assim, rsrs! Cada um gosta de uma coisa. Eu tenho ouvido muitas coisas diferentes entre si, como Cabbage, Superorganism, The Shacks, Hinds, Amyl and The Sniffers, Dream Wife, Shame, Angel Olson, Girl Ray, Courtney Barnett, King Gizzard, Serpent Power, etc. Sem falar nos clássicos Stooges, Beatles, Primal Scream, Teenage Fanclub, etc.

A Alê citou Bleached, Ty segall, Kurt Vile, Sheer Mag, Adult Books, Bass Drum of Death, Ex-Hex e Fleetwood Mac. O Adriano lembrou de Ssion, Ladytron, Skating Polly e Les Bistecs, e o Flavio vai pro lado mais clássico com The Longshot, Melvins, Turbo Negro, Asomvel, Fireburn, Mastodon, Fu Manchu, Ty Segall, Stooges, MC5, Radio Birdman, Hanoi Rocks e Ramones.

Palco: Vocês estão gravando um novo disco, certo? O que podemos esperar desse novo trabalho? Quais são as influências? Já tem um nome?Tem alguma previsão para lançamento?

Zé: No final do ano passado, entramos em estúdio para gravar uma música que estará na trilha do documentário “Guitar Days” [ver vídeo abaixo]. Quando a música ficou pronta gostei do resultado, mas achei que soava como algo que já havíamos feito, poderia ser um out take de algum disco antigo. Se fosse gravar um disco teria que ser algo diferente, não faria sentido soar do mesmo jeito depois de quase duas décadas.

Pouco tempo depois, acertamos uma parceria incrível com o Estúdio Aurora e pela primeira vez tivemos tempo e condições de fazer um disco do jeito que a gente imaginava.

Ter o Adriano ali na produção foi genial. Ele entende o que a gente quer, consegue mostrar alguns caminhos pouco óbvios e estimular a banda a arriscar mais.

O disco tem nome… mas se eu contar a banda me mata rsrsr. Em relação às influências, acho que tem um pouco de tudo o que ouvimos a vida inteira. Esteticamente, o disco será mais eclético, mas isso foi algo pensado e decidido por todos. Tem desde uma música mais 60s com Hammond e Mellotron, até umas mais pesadas, e outras mais dançantes. Já colocamos alguns teclados, gravados pelo Pedro Pelotas [Cachorro Grande], teremos backings feitos pelo Victor José e a Elisa Oieno, do Antiprisma, provavelmente uma guitarra gravada pela nossa antiga guitarrista, Eliane, e outra gravada por um convidado surpresa, que é um dos nossos ídolos.

Pretendemos terminar as gravações e a mixagem até o final de maio, e daí retomaremos as conversas com alguns selos. Queremos lançar em formato físico, não apenas virtual. A idéia é que saia no segundo semestre. Uma curiosidade é que a Eliane também vai fazer a capa do álbum.

Palco: Ao lado de bandas como Second Come, Killing Chainsaw, Mickey Junkies, Low, Brincando de Deus, Wry, Low Dream, vocês fizeram parte do cenário indie do início dos anos de 1990, construindo uma carreira sem depender de grandes gravadoras e da mídia de massa. Como vocês enxergam esse cenário hoje?

Zé: Na nossa época, ser independente era a única opção. Contrato com gravadoras era algo raro, ainda mais para uma banda que cantava em inglês como nós. Aí a coisa se tornava algo praticamente impossível. A vantagem de estar em uma gravadora era a distribuição e a divulgação, coisas que hoje se tornaram muito mais fáceis graças à internet. É claro que com o aumento da informação as pessoas se tornaram mais críticas, mas vejo isso como algo positivo. Se por um lado existem mais facilidades, quem quiser se dar bem precisa ter uma seriedade e um profissionalismo muito maior, e reconheço isso em muitos músicos e selos. Acho que a grande dificuldade hoje em dia, aqui no Brasil, é encontrar um bom lugar para tocar. Muitos donos de casas noturnas ainda não enxergam as bandas independentes com o respeito que merecem. Mas sou otimista, acho que isso deve mudar.

Tem muita banda boa, muitos blogs feitos por gente que entende e gosta de música e, ao contrário do que acontecia antes, existe uma proximidade maior entre bandas de estilos opostos. Tudo isso é uma combinação boa. Melhor que em nossa época.

Palco: Como é tocar para uma nova geração que não necessariamente teve contato com a banda anteriormente?

: É a melhor coisa do mundo. Saber que alguém mais jovem que eu gosta da nossa música dá vontade de continuar. Olhar para o passado é besteira. Adoro estar junto de gente nova, interessante, com brilho nos olhos. É um desafio e um privilégio.

Palco: O que representa esse show de domingo (29) no Sesc Belenzinho? O que esperar dessa apresentação? Vai ter convidados? Vão ter músicas inéditas?

Zé: Tocar em uma unidade do Sesc é sempre um prazer. O show será um pouco mais longo que os que fazemos normalmente. Vamos tocar a música do Guitar Days, “First Time”, que só apresentamos uma vez ao vivo, resgatar músicas de todos os nossos álbuns, algumas das quais provavelmente sairão do repertório pra dar lugar às novas. Até agora não pensamos em nenhum convidado, mas não é difícil que algum músico amigo suba ao palco pra cantar alguma música com a gente, o que é sempre divertido.

WhatsApp Image 2018-04-23 at 12.42.19Pin Ups no Sesc Belenzinho

Quando: 29 de abril, domingo, 18h
Onde: Sesc Belenzinho (R. Padre Adelino, 1000 – São Paulo)
Quanto: R$ 6, R$ 10 e R$ 20 (ingressos esgotados na web)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *