O disco que apresentou o Sex Pistols para o mundo completou 40 anos em 2017
[Por Natasha Ramos]
Numa década de convulsão social, a fachada da Inglaterra dos anos 70 estava ruindo sob os altos índices de desemprego e apatia. O país inteiro parecia estar de ressaca e o otimismo dos anos 60 era apenas uma lembrança distante. Nesse momento surgiu o disco de estreia do Sex Pistols, um chute entre as pernas tão literal quanto seu título.
Quando os Pistols começaram a se apresentar em shows, perigava a fama do grupo ser maior do que a da música. Essa sensação se tornou mais intensa com a luminosa capa de Jamie Reid. Por conta da logomarca simbólica e da expressão obscena estampada, muitas lojas se recusaram a vender o disco e o caso chegou a ser levado à Justiça (acabou anulado depois que Richard Branson, fundador da Virgin, chamou um professor de linguistica para testemunhar sobre as origens não obscenas da palavra).
A forma quase eclipsou o conteúdo, mas os passos de marcha que iniciam “Holidays In Sun” foram um aviso maldoso de que, por trás do projeto gráfico, havia um álbum que estava prestes a alterar a percepção de música, moda e atitude de toda uma geração.
É válido lembrar que os Pistols não nasceram por acaso. Foram fruto da mente de Malcolm McLaren, produtor que já havia trabalhado com os New York Dolls, observado caras como Richard Hell, do Television, e após voltar de sua excursão pela cena punk que se formava em Nova York, encontrou os voluntários perfeitos para sua mais famosa empreitada: os Sex Pistols. Isso, no entanto, não tira o mérito de que Never Mind the Bollocks… é um disco marco na história da música.
O álbum traz a ferocidade de “Bodies”, que levanta o tema do aborto, e o riffs simples, mas eficiente e devastador, de Steve Jones em “Pretty Vacant”, que deu esperanças a todos os guitarristas não-virtuosos do mundo. Assim o punk tomava visibilidade para todo o mundo, saindo do underground, de onde uma ou outra banda, como a Ramones, um dos ícone do punk na cena novaiorquina, conseguiu se destacar.
“Anarchy in the UK” é o grito mais famoso do álbum, mas “God Save the Queen” se esquivale como epicentro de raiva. Esta última foi lançada durante as comemorações dos 25 anos de ascensão da Rainha Elizabeth II ao trono da Grã-Bretanha e de outras nações que compõem os Reinos da Comunidade das Nações, atingiu o topo das paradas da NME, mas duvidosamente ficou apenas em segunda posição da UK Singles Chart, segundo a BBC, que se recusou a tocar a canção. Nesta música, Johnny Rotten torce e esculpe cada nota no formato de uma flecha de injúrias diretamente apontada contra a realeza. Poucos momentos na música popular são comparáveis ao berro gutural de Rotten: “No future for you”.
Toda a revolta da juventude inglesa daquela época contida neste álbum serviu de inspiração não só para outras bandas contemporâneas aos Pistols, mas para futuras gerações de outras partes do globo, que também abraçaram o punk e ecoaram seus gritos inconformados a plenos pulmões.
Selo: Virgin
Produção: Bill Price | Jamie Reid
Nacionalidade: Inglaterra
Duração: 38:35
Faixas
“Holidays In The Sun” – 3:22
“Bodies” – 3:03
“No Feelings” – 2:51
“Liar” – 2:41
“God Save the Queen” – 3:20
“Problems” – 4:11
“Seventeen” – 2:02
“Anarchy in the U.K.” – 3:32
“Submission” – 4:12
“Pretty Vacant” – 3:18
“New York” – 3:07
“E.M.I.” – 3:10