[Por Natasha Ramos]
“Fora Temer!” foi o grito mais ouvido vindo da plateia entre uma música e outra durante o show de um dos maiores expoentes da MPB: Jards Macalé. A apresentação única, realizada no Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo, na última quarta-feira (25) aconteceu nos moldes “um banquinho e um violão”, na base do improviso e sem um repertório bem definido. O show foi o primeiro do projeto Son Estrella Galicia no Brasil que, todo mês pretende convidar um músico ou banda para tocar em casas de show em São Paulo.
Aproveitando o momento de efervescência política, os presentes no show, notadamente com uma posição à esquerda, manifestavam-se contra o governo interino e pelo retorno da presidenta afastada do cargo, Dilma Rousseff. Na música “Let’s Play That”, de 1983, o músico corroborando a posição da plateia deixou escapar no final um “Volta, querida!”.
A música “Canalha”, de Walter Franco, ganhou em seu refrão uma flexão para o plural. “Canalhassss!!”, gritava Jards alusivamente aos articuladores do impeachment da presidenta Dilma, considerado um golpe de Estado.
Também foram executadas músicas de sua autoria como “Mal Secreto” e “Pano pra Manga”, e outras versões de artistas, como “Mambo da Cantareira”, do cantor, compositor, radialista e humorista carioca Gordurinha, “Acertei no Milhar”, de Wilson Batista e Geraldo Pereira, e “Juízo Final”, do sambista carioca Nélson Cavaquinho. Esta última música cantada do meio para o final do show, quando o público, mais à vontade, interagia a todo o momento com o músico, ganhou um coro da plateia acompanhada pela voz grave de Jards. “Farinha do Desprezo”, de 1972, foi guardada para o final, depois da saída de Jards do palco e de seu retorno atendendo os insistentes gritos de seus fãs por mais uma.
Transitando em diversas esferas da arte, Jards Macalé, iniciou sua carreira na década de 1960, e já dividiu o palco com Luiz Melodia, Zeca Baleiro e outros grandes nomes da música brasileira. Jards também produziu os primeiros shows de Maria Betânia, além de realizar diversas parcerias com poetas, cineastas e artistas plásticos. Com discos reeditados e remasterizados, ele vem conquistando as novas gerações, como seu primeiro LP de 1972, homônimo, relançado em 2012.
Discografia:
· Só Morto – 1969
· Jards Macalé – 1972
· Aprender a nadar – 1974
· O banquete dos mendigos – 1974
· Contrastes – 1977
· Luiz Melodia e Jardes Macalé – 1978
· Rio sem Tom/ Blues Shoes – 1987
· 4 batutas & 1 coringa – 1987
· Ismael Silva – Peçam Bis – 1988
· Let’s Play That – 1994
· O Q eu faço é música – 1998
· Macalé canta Moreira – 2001
· Amor, ordem e progresso – 2003
· Real grandeza – 2005
· Macao – 2007
· Jards – 2011
· Jards Macalé ao vivo – 2015