Headliner do festival Cultura Inglesa atrai mais fãs de Smiths do que de seu trabalho solo
[Por Natasha Ramos]
O Festival da Cultura Inglesa que, neste ano, trouxe como atração principal o músico Johnny Marr, ousou na escolha das bandas. Além do guitarrista e compositor inglês, conhecido por tocar na lendária The Smiths, completaram o line-up a banda irlandesa The Strypes e a cantora paraense Gaby Amarantos (!). Segundo a organização do evento, os shows de encerramento do festival levaram ao Memorial da América Latina, em São Paulo, no último domingo (21), cerca de 12 mil pessoas.
Os garotos de vinte e poucos anos dos Strypes agitaram o público com sua energia juvenil no show que abriu a tarde/noite de apresentações. Os meninos mandaram um som R&B, que ora lembrava a banda nova-iorquina de garage punk Devil Dogs, ora lembrava a banda britânica de indie rock Arctic Monkeys.
Na sequência, apreensão entre o público. O que Gaby Amarantos tinha a ver com o festival, cuja premissa é trazer bandas e artistas britânicos para tocar no encerramento? Pouco antes de ela subir ao palco, nós já saberíamos. “Gaby Amarantos irá fazer uma homenagem às divas britânicas, misturando os tradicionais sons ingleses ao seu tempero tecnobrega”, avisou a ‘mestre de cerimônia’.
Então, eis que a diva do Pará aparece para o público vestida em uma roupa vermelho berrante, com uma coroa no topo da cabeça, entoando músicas do Queen. “Pra mim, ele é a maior diva de todas: Fred Mercury!”, disse a cantora antes de mandar “I Want to Break Free”. “O Fred Mercury deve estar se remexendo no túmulo”, alguém disse na plateia.
Amy Winehouse, que ganhou versões de ”Rehab” e “Back to Black” adaptadas para a sonoridade paraense, teve direito até à sua versão drag queen perambulando pelo palco, fingindo estar bêbada. Bandas como Soft Cell (“Sweet Dreams”); Smiths ( “Heaven knows I’m Miserable Now”), New Order (“Blue Monday”) e Boy George (“Karma Chameleon”) também foram adaptadas à sonoridade do norte; e algumas delas ainda ganharam versões com letras em português, o que, apesar de ruim, rendeu algumas risadas.
O show que começou seguindo a premissa do tributo às divas britânica, do meio para o fim, já havia perdido completamente o sentido. Amarantos chamou ao palco diversos artistas do Pará, ilustres desconhecidos por aqui, para integrar com ela aquele espetáculo bizarro que, em um determinado momento, até funk carioca rolou. Foi, realmente, uma mistura de carimbó!
Apesar disso, o show valeu pelo espetáculo e comicidade. Gaby tirou de letra o fato de ser uma “estranha no ninho” e foi bem recepcionada pelo público, que entrou na brincadeira e cantou junto muitas das músicas.
Johnny Marr
O headliner da noite, Johnny Marr, considerado o 51o melhor guitarrista de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone, adentrou o palco, mandando logo de cara “Playland”, música homônima ao seu segundo álbum da carreira solo. No entanto, essa não agitou tanto o público como a segunda música, “Panic”, dos Smiths.
O show acabaria sendo mais ou menos assim: as músicas da fase solo do músico embalaram o público, mas a galera estava mais interessada na performance de Johnny tocando as clássicas dos Smiths. O músico pareceu ter consciência disso. Não à toa permeou seu setlist com músicas da banda que formou ao lado de Morrissey no começo, meio e fim de sua apresentação.
“Easy Money”, a música de trabalho de Playland (2014), mais agitadinha e pop, fez o povo se mexer, mas foram sons como “Bigmouth Strikes Again” e “Stop me if you think you heard this before” que realmente tiraram o público da inércia em que se encontravam. Em alguns trechos de “There is a light that never goes out”, última música antes do “bis”, o guitarrista nem precisou cantar. O público fazia isso por ele.
O show de Marr teve direito até a covers de bandas britânicas, como a dupla formada no final da década de 80, Eletronic, com ”Getting away with it”; e a banda de synthpop Depeche Mode, com “I Feel You”.
O show foi encerrado com “How Soon is Now?”, canção dos Smiths escrita por Marr e Morrisey. Segundo o guitarrista, essa música não pode faltar em seu show.
Por mais que possa querer, Johnny Marr não conseguirá se livrar do título “ex-guitarrista dos Smiths” tão facilmente. Quem não conhecia seu trabalho solo, como pareceu ser o caso da maioria das pessoas que estiveram no festival, foi atraído para o show para ver o ex-guitarrista dos Smiths tocar canções da clássica banda. Mas, afinal, ser lembrado por algo bom como isso não deve ser tão ruim assim. ::
Confira o trecho de Johnny Marr tocando “Panic”, dos Smiths, durante o Festival da Cultura Inglesa 2015:
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