Novo disco do Interpol é um retorno aos bons tempos e a redenção da banda depois do último disco
[Por Natasha Ramos]
Depois de quatro anos de hiato, os nova-iorquinos do Interpol lançaram este mês seu quinto disco: El Pintor, que significa “O pintor”, em espanhol, mas também é um anagrama para o nome da banda. Como no trabalho anterior, Interpol, o novo disco tem 10 músicas e foi autoproduzido, com o veterano dos estúdios Alan Moulder fazendo a mixagem.
Após o lançamento do disco auto-intitulado, de 2010, a banda não tinha obrigação (com a gravadora) de produzir um novo álbum com tanta pressa. Assim, cada membro do Interpol resolveu se focar em seus projetos pessoais. Paul Banks lançou seu segundo disco solo, o baterista Sam Fogarino formou o projeto Empty Mansions com o guitarrista Duane Denison, da Jesus Lizard, e o baixista e tecladista Brandon Curtis, da Secret Machines, enquanto o guitarrista Daniel Kessler abriu um restaurante de frutos do mar no Brooklyn. O tempo em que passaram separados parece ter feito bem aos músicos, dando tempo suficiente para eles exorcizarem completamente o fantasma do baixista Carlos Dengler, que deixou a banda meses antes do lançamento do disco anterior. O grupo agora é um trio, com o frontman Paul Banks assumindo a responsabilidade das quatro cordas.
Apesar do “desfalque”, o novo álbum soa como o trabalho de uma banda revitalizada. Há uma energia nessas músicas que não encontramos no disco anterior. As faixas de El Pintor trouxeram de volta a boa e velha sonoridade melódica e soturna, aliada a composições estruturalmente mais acessíveis, que seguem o modelo dos primeiros trabalhos. Modelo este que, inclusive, elevou o Interpol ao status de Banda Importante, no começo dos anos 2000.
Vale lembrar que o álbum de estreia, Turn on the Bright Lights, que completou 12 anos de lançamento em 2014, arrebatou crítica e público na época. Nove anos depois de seu lançamento, o disco ganhou o certificado de Ouro pelo RIAA (Recording Industry Association of America) -ou seja, 500.000 unidades vendidas nos EUA- e o fantasma do sucesso deste disco seguiu a banda desde então. Da estreia do Bright Lights para cá, o Interpol tem sido vítima de uma expectativa exacerbada por parte do público e, principalmente, da crítica para superar seu primeiro trabalho. Os discos que vieram em seguida, Antics (2004) e Our Love to Admire (2007) trouxeram músicas boas, mas, gradualmente, já não com o mesmo frescor do primeiro. E o quarto álbum, Interpol (2010), muito mal recebido, foi considerado um fiasco pela crítica especializada.
Levando tudo isso em consideração, o retorno ao passado que é notável em El Pintor não parece um movimento tão absurdo. Se com o último disco eles correram um risco que comercialmente não deu muito resultado, agora, eles resolveram voltar para um esquema sonoro confortável e mais, digamos Interpolesco, com ganchos e melodias familiares. Há músicas do novo disco que te remetem quase que instantaneamente a outras dos trabalhos anteriores. É o caso de “Anywhere”, cujo riff de abertura lembra as músicas mais animadas deles, como “Slow Hands”, do Antics. A elegante “My Blue Supreme” tem a mesma levada da calminha “Rest My Chemistry”, do Our Love to Admire. E os acordes melódicos de “My Desire” nos fazem retornar à “All Fired Up”, também do Our Love to Admire.
Larry Fitzmaurice, em seu artigo no site Pitchfork, faz uma lista comparando as músicas individualmente, mas em alguns momentos ele força a barra para provar sua teoria, como quando compara “Ancient Ways” com “Not Even Jail”, Antics. De modo geral, as similaridades de El Pintor com os primeiros sons da banda aparecem no disco mais em atmosfera e sonoridade do que em momentos específicos onde certa música lembra uma ou outra.
A lenta e inesperadamente rápida “All the Rage Back Home” traz um refrão cantado por Banks com seu choramingo habitual, que confere uma densidade emocional à música e tem animado o público durante os shows, o que é um bom sinal –geralmente quando bandas tocam músicas novas ao vivo, e as pessoas não ouviram o disco ainda, a reação costuma ser morna. “Same Town, New Story” traz o lick, que, assim como em “Narc”, do Antics, acompanha boa parte da música, e vai até o solo que consegue mesmo com poucas notas, transmitir uma melancolia genuína. Essa melodia triste é seguida por uma batida dançante que você até pensa que não vai combinar, mas combina.
Nos versos, Banks consegue fazer o puro desespero soar graciosamente sem esforço algum, como em “Everything is wrong” e “Twice as Hard”, que revisitam a inclinação do Interpol por fazer um som com vários instrumentos de orquestra, como viola, piano e violino, que combinados produzem uma sonoridade que atinge o ápice do álbum.
Podemos considerar que El Pintor foi uma redenção do Interpol depois do disco anterior, caracterizado pela ausência de ganchos, refrões e outros elementos que transformam a audição de um disco em uma atividade prazerosa. O quinto disco e mais recente trabalho apresenta faixas que podem conviver lado a lado com as melhores músicas do Interpol.
É certo que para quem foi fisgado pelas músicas do primeiro álbum, El Pintor ainda tem muito o que impressionar, mas com certeza, este trabalho foi uma reviravolta no declínio gradual em que a Interpol se encontrava e que algumas outras bandas do chamado novo rock, que surgiu na mesma época que os nova-iorquinos, como The Strokes e The Walkmen, têm seguido. É difícil dizer que, com esse novo trabalho, o Interpol recuperou toda a vitalidade perdida nos últimos anos, mas, sem dúvida, com El Pintor, Banks e cia. provou que ainda são uma banda que tem seu valor. ::
• Ano: 2014
• Selo: Matador, Soft Limit
• Produção: Interpol
• # Faixas: 10
• Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Post Punk Revival
• Duração: 39:50