[Por Andréia Martins]
O rock pop do Supercombo sempre foi inteligente. Na fala, e no som. Amianto, o terceiro disco do grupo, lançado no início deste ano, é a prova disso. São 12 faixas que mostram que a banda virou gente grande, um passo natural, especialmente nas melodias, e mantém o clima presente no álbum Sal Grosso, lançado pela banda em 2011. Agora, a nostalgia aparece em pitadas maiores.
“É mesmo um disco nostálgico, mas não é só isso. Tem também uma associação à perda de tempo, especialmente da juventude. Sempre tive essas ideias na minha cabeça, e não queria trocar ninguém, mas um amigo me disse que, como músico, era o que eu tinha que fazer, falar dessas coisas e não cantar um blá blá blá. ‘Piloto Automático’ [primeiro single do disco] é quase uma oração, um pedido de vai viver sua vida porque o tempo está passando muito rápido. Quando a gente para, se pergunta o que é que eu fiz esse mês?”, diz Léo Ramos, voz e guitarra do Supercombo, em entrevista ao Palco.
Esse tom despretensioso talvez seja um dos motivos que faça do capixaba Léo um dos melhores compositores da cena independente. À frente da banda desde o início, dois discos e um EP depois, somados a algumas trocas na formação, ele vê no sucesso de Amianto o reflexo de um bom trabalho em grupo.
“Eu e o Marcel (ex-integrante) gravávamos tudo, tomando a frente das coisas. Depois que ele saiu, eu tomei as rédeas e acabei gravando Sal Grosso e o EP quase sozinho. O Amianto é um disco que todo mundo participou, era um monte de gente contribuindo. Se você não tiver as pessoas certas tocando com você, você não vai pra frente. Arrumamos um casamento bom agora”, diz Léo. Esse casamento entre cinco inclui Carol Navarro (baixo), Paulo Vaz (teclados e efeitos), Raul de Paula (bateria) e Pedro Ramos (guitarra e voz).
Dessa vez, a banda entendeu que precisava apostar todas as fichas para divulgar o disco, ao contrário do que aconteceu com os anteriores Festa, de 2008, e Sal Grosso, de 2011. “Tem gente descobrindo esses discos só agora”, comenta Léo.
Na sonoridade, a banda que nunca se importou em ser chamada de pop afirma sua a cara rock em Amianto. A trinca que abre o novo disco – “Matagal”, “Campo de Força”, “Piloto Automático”, – serve como cartão de visita para as demais faixas. No caso da última, primeiro single do disco, a banda lançou antes de finalizar Amianto para ter um termômetro do trabalho. A boa recepção surpreendeu.
A música “Menino”, uma espécie de fábula-urbana, dá uma quebrada no rock e lança um breve olhar sobre a cidade grande nos versos menino da cidade não sabe andar descalço / não sabe respirar ou de onde menino vem os carros levam as pessoas pra passear / o sol é cinza, o mar esgoto. “São Paulo é a cidade, mas é muito fácil você não aproveitar os momentos. É tudo muito improvisado”, diz Léo.
A cadenciada “Ela” é uma das músicas que ele guarda no seu baú de composições da época em que morava em Vitória (ES). “Tenho umas 60 músicas da época em que ainda morava em Vitória. A cidade é uma ilha, tudo muito perto e pequeno… Esse ócio vai para o lado criativo. Então eu tinha muito tempo livre para fazer música. No caso de ‘Ela’, a música passou por umas transformações ao longo dos anos”.
Amianto, faixa que dá nome ao disco, encerra o álbum. Curiosamente, Léo conta que a música tem gerado vários covers dos fãs da banda. A faixa ganhou um “lyric video”. O disco, que abre com a banda cantando sobre “o mundo inteiro estar errado” e querer ter seu próprio universo, acaba com o verso “somos programados para cair”. Aonde quer que essa queda leve, a Supercombo ainda está longe dela, ocupada em construir, em terreno fértil, o seu próprio universo.