[por Andréia Martins]
O Blink-182 nunca foi uma banda para ser levada a sério. O que não quer dizer que não seja uma das bandas mais importantes e queridas dos anos 90.
Com letras e riffs grudentos –eles mesmo assumem isso, e de fato, ter o segredo dessa fórmula, se bem usado, não pode dar errado–, compromisso com a diversão, skate e garotas, o trio natural da Califórnia ajudou a mostrar que o punk não precisava ser político e sério o tempo todo, podia ser apenas atrevido e nonsense.
É o que mostra a biografia “Blink-182”, lançada em 2010 e que chega ao Brasil pela Edições Ideal.
Do início do trio aos dias de hoje, o jornalista Joe Shooman recupera depoimentos da banda, de amigos, de outras bandas com quem o trio dividiu o palco e do ex-baterista Scott Ranyor, principal fonte a contar o início do Blink-182.
O ponto forte do livro é contar a trajetória da banda disco a disco, mostrando bem as diferenças na sonoridade e as influências de cada álbum, contextualizando bem qual era o lugar da banda a cada novo lançamento ou projeto no cenário pop norte-americano.
Ao lado de Green Day, Offspring, entre outras bandas, a proposta do Blink-182 era um punk mais divertido, o que no início gerou muitas críticas da grande imprensa –a revista NME pegou no pé dos meninos durante um bom tempo–, enquanto a banda lotava shows e era sucesso nas rádios.
“Nossa visão do punk diz respeito a diversão”, diz Mark Hoppus, baixista e vocalista da banda. Tom DeLonge, guitarrista e vocalista do trio, segue pelo mesmo caminho:
“O novo som do punk rock diz mais respeito a músicos tentando tocar seus instrumentos e se concentrarem, se não nas letras, nas melodias e harmonias, e também tentando integrar tudo isso em sua música. (…) Nós queremos que as pessoas de divirtam e digam o que quer que seja, ofendam as pessoas e corram por aí peladas, além de fazer qualquer coisa que queiram!”.
Foi a partir de “Enema of The State”, o terceiro disco da banda, lançado em 1999, que os mais críticos passaram a enxergar o Blink como uma verdadeira banda.
Mais maduro, o disco têm letras que abordam assuntos mais sérios como os agouros da vida adulta ( no hit “What’s My Age Again”), fim de relacionamentos (“Going Away to College”) e suicídio adolescente (“Adam’s Song).
O lado divertido da banda não ficou de fora. Outro destaque do disco foi “All The Small Things” e seu refrão grudento na-na-na-na. Resultado: foi o disco da semana no New York Times.
O livro segue com os discos seguintes da banda -foram seis álbuns de estúdio ao todo-, os shows, os projetos paralelos, o impacto do 11/9 na banda até a separação, em 2008, após duas tragédias abaterem a banda –a morte de um antigo produtor e o acidente aéreo de Travis Barker– e o retorno da banda um ano depois.
Para os fãs mais fervorosos, no entanto, faltam detalhes mais pessoais do trio, o que acaba sendo compensado com as impagáveis histórias protagonizadas por Tom e Mark contadas pelo autor no livro. Desde a tentativa de se exibir para o novo amigo Tom, que levou Mark a um tombo homérico de skate, ou o imbróglio envolvendo o nome da banda, até a inspiração para o nome da música “Waggy”, do segundo disco, que nasceu das sessões de arroto de Mark –pois é, estamos falando do Blink–, entre outras, as histórias reforçam a cara da banda por trás da música.
Tais acontecimentos mostram bem porque a tal fórmula de sucesso do Blink-182 deu certo com eles e porque não funcionaria com qualquer outra banda.