Dupla lança seu segundo disco, um álbum cheio de misturas, descolado, criativo e sensual
[por Andréia Martins]*
Suavidade e diversão são duas características do Letuce, banda formada pelo casal Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos, e que acaba de lançar seu segundo disco, Manja Perene (Bolacha Discos). Sucessor de Plano de Fuga Pra Cima dos Outros e de Mim, de 2009, esse segundo disco reforça o que o casal tem de melhor: a espontaneidade.
As músicas trazem ares de samba, rock, brega, folk, e vão da bossa nova ao indie rock, mas são as baladas harmoniosas – talvez declarações ou conversas diretas de um para o outro – o que a banda tem de mais gostoso. Não há barreiras ou limites que impeçam a dupla, acompanhada de Fábio Lima no baixo e Thomas Harres na batera, de experimentar.
Letícia conta que Manja Perene “saiu de uma poesia minha feita ao Lucas sobre a vontade de eternizar o amor. Sabe pra sempre? Manja perene? Perene é todo dia, nossa pele se esticando, o cabelo crescendo, o coração nunca parando. Esse disco veio com fogo, veio quente”.
A experiência e a boa recepção do primeiro álbum deixaram a banda mais segura para esse novo trabalho. “Foi bem mais fácil, até porque tínhamos mais recurso financeiro [o disco foi gravado no esquema crowdfunding, com dinheiro arrecadado com os fãs e amigos]. Fora isso, Lucas e eu, e também os músicos, nos conhecemos há 5 anos, e isso traz intimidade, fortalece laços, podemos falar um para o outro o que achamos, o que queremos. No início, tateávamos e nos especulávamos muito. Hoje em dia somos mais conscientes, e gravar esse segundo disco foi natural e cheio de significados pra gente”, diz.
Muitas das canções do disco nasceram durante shows anteriores, das parcerias entre os músicos, como “Anatomia Sexual”, de Lima, “Fio Solto” e “Insoniazinha”, escrita em parceria com Harres.
“Pra Passear” abre o disco com suavidade e o piano marcando a música. Na sequência, “Fio Solto” já traz um clima mais divertido. “Chess Trip” é daquelas boas para colocar no carro e pegar a estrada, enquanto “Loteria” é uma das canções que é a cara da dupla. “Se eu acerto seis números, você me encontra em Bora-Bora, em Guadalajara”, canta Letícia com ar debochado. “Cataploft” traz o romantismo à la Letuce, com versos doces como “quando cê chega é cataploft no meu peito”.
Em “Freud Sits Here”, Letícia solta a voz, acompanhada da guitarra de Lucas, e mostra seu potencial rebelde, roqueira, pouco conhecido e explorado nas canções da dupla. Já em “Areia Fina”, Lucas solta a voz, algo inédito no primeiro disco, embora ele fosse cantor antes de formar a dupla. “Quando começamos, ele não queria cantar, eu pedia, mas ele não queria. Comentei: ‘No nosso segundo disco você tem que cantar!’. E ele mesmo ficou empolgado de voltar a cantar. Acho a voz do Lucas de outro planeta de tão bonita”, diz Letícia.
Comparando os dois trabalhos, Letícia vê um crescimento da dupla. “Lucas virou um homem-polvo nesse disco. Ele toca guitarra, teclado (sintetizador) e a MPC dele. Preenchemos mais. E eu me arrisquei mais nesse mundo insano da voz”.
Manja Perene é o próximo passo esperado do Letuce, e que anuncia que a criatividade musical da dupla está tomando cada vez mais forma, apostando na espontaneidade – como mostram algumas conversas no estúdio deixadas entre uma música ou outra –, na diversão e na independência de rótulos.
Espera-se que o próximo passo seja grande. E Letícia, que, para quem não sabe, também é atriz de stand-up, já dá pistas.
“Ano que vem, devemos lançar um livro. Finalmente tomei coragem de publicar umas poesias de guardanapo. E Lucas fará as ilustrações, ele tem um traço muito livre no desenho. Mas, como sonhamos com música, devemos fazer também a trilha sonora do livro. Caso o leitor deseje, poderá apertar o play em músicas feitas especialmente pra leitura. Vai chamar Zarafa. Vai ser nossa viagem”.