Ritmo latino invade festas em SP, Rio e Recife
[Por Natasha Ramos] – A cultura latina, apesar de tão próxima, ainda é pouco conhecida no Brasil. Aqui, é possível encontrar um cardápio bem variado de festas voltadas a ritmos africanos, americanos e europeus, mas, salvo raras exceções, as festas de casas dedicadas à música latina resumem-se aos gêneros mais conhecidos e popularizados nas danças de salão. No entanto, a cena da música consumida nos países de origem tem cada vez mais saído de seus becos para ganhar espaço no Brasil. E é nesse contexto que se encaixa a cumbia, ritmo que nasceu na Colômbia e se disseminou por outros países falantes do castelhano na América Latina.
“A cumbia está para os latinos, como o samba está para nós. Existem vários tipos de cumbia, assim como no samba”, explica João Aly, baixista e vocalista da banda El Cartel, que toca em festas em São Paulo.
Ao se disseminar pelos países latino-americanos, a cumbia adquiriu sotaques e sabores diferentes. Dos primórdios na Colômbia e Panamá, passando pela chicha peruana, andina, amazônica, as variações afrocaribenhas até a villera das favelas de Buenos Aires todas são nuances da cumbia.
E as variações do gênero não param de surgir. A cumbia aceita bem a mistura com ritmos mais modernos. “Na festa tocamos diversas variações e remixes de cumbia com hip-hop, dub, rock, jazz, eletrônico”, diz músico e DJ Tide, idealizador da festa Guacharaca Club (SP).
Um dos expoentes da cumbia em São Paulo, a banda El Cartel, formada em 2008, baseia-se na vertente mais tradicional do estilo, originária da Colômbia, com uma pitada tupiniquim. “A cumbia que tocamos hoje é genuinamente brasileira, tem a influência rítmica do Belém do Pará, por conta do [paraense] Cristiano Carimbó [tumbadoras e voz principal], e a nuances da cumbia argentina, contribuição do [argentino] Esteban Hetsch [violão e voz]. Além disso, a percussão é tocada com a guacharaca (instrumento musical cujo som assemelha-se ao do “reco-reco”) e bateria —a cumbia mais tradicional não é tocada com esse instrumento”, explica Aly.
Além da El Cartel, outras bandas misturam a cumbia com elementos brasileiros. Um exemplo é a Academia de Berlinda (PE), com uma pegada bem nordestina. E as festas surgem para acompanhar essa cena que, aos poucos, se forma.
“Existe um conceito que já vem sendo difundido há algum tempo rotulado de Tropical Bass ou Global Ghetto de festas, coletivos, selos e DJ’s que difundem a música produzida nas periferias do mundo, seja o kuduro de Angola, o funk carioca, o tecnobrega paraense, o dancehall jamaicano. É nesse cenário que a cumbia aparece”, explica Tide.
A festa itinerante Baile Tropical, idealizada pelo baiano Patricktor4 (DJ, radialista e produtor) e Bernardo Pinheiro (DJ e produtor), já passou por várias capitais brasileiras e até Argentina, Uruguai e França. “Atualmente, o Baile Tropical tem duas sedes: Recife (onde Moro) e Belém onde mora o Bernardo Pinheiro”, comenta Patricktor4.
Outra, promovida mensalmente no Rio de Janeiro desde 2009, a Arriba! La Fiesta, também aborda a cumbia dentre outras vertentes latinas da festa, que costuma ser bem animada. “Existe um modo de dançar a cumbia, mas reparo que a plateia está mais preocupada em se divertir, dançando do seu próprio estilo”, comenta Marcello, o DJ MBgroove, que toca na Arriba! La Fiesta. E para citar outras festas: La Tabaquera, em Recife; Que Rico! Latin Beats, em São Paulo; e Dancing Cheetah, no Rio de Janeiro.
Apesar de pequena se comparada aos países vizinhos, a cena da cumbia no Brasil existe e vem crescendo cada vez mais, devido a curiosidade do público. “A quantidade de Djs que incluem a cumbia em seus repertórios, os grupos estrangeiros que se apresentam por aqui, o intercâmbio com nossos vizinhos e a iniciativa de pessoas que carregam não só a bandeira da cumbia, mas a de uma maior integração cultural com nossos hermanos são fatores que fazem essa cena crescer”, diz Tide.
*Matéria publicada originalmente na revista Almanaque Saraiva.
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