[por Andréia Martins]
Matt Adams é um tipo curioso. Este californiano é a mente por trás do The Blank Tapes e não à toa, muitas vezes é chamado de uma “máquina da música”. Tudo porque ele já lançou mais de 100 músicas nos sete anos de carreira da banda – que tem seis discos na bagagem e muitos quilômetros rodados em tours pelo mundo todo -, sem contar que, na hora de gravar, é ele quem cuida de todos os instrumentos.
“Eu estou sempre pensando em música, trabalhando em duas ou três ao mesmo tempo. É para isso que minha cabeça funciona”, disse ele em entrevista exclusiva ao Palco Alternativo, pouco antes de estrear sua turnê 2011 no Brasil, mais precisamente em São Paulo, na Casa do Mancha.
Pacato, sempre com seu bloquinho de anotações a tira colo, Matt é natural de Orange County no ensolarado Estado americano da Califórnia, e depois se mudou para São Francisco – o que ele mais costa lá? As cores. Começou o Blank Tapes em 2003, quando lançou seu disco de estreia, o excelente Country Western Honky Tonk Sallon Blues, pura essência do folk americano, mas com ares praianos.
A turnê ainda faz parte do último trabalho da banda, Home Away From Home, de 2010. Um disco diferente dos anteriores, tanto na sonoridade quanto no formato; com 10 músicas, é seu disco mais enxuto já que ele costuma lançar álbuns com mais de 15 faixas.
“A mudança foi que… bem, primeiro eu queria lançar este trabalho em vinil, o que permite em média 40 minutos de música. Como a gravadora também queria um disco curto, quis que ele tivesse um conceito e fosse focado em determinados estilo e sonoridade”, disse Matt. “Já escrevi muitas coisas gentis, alegres e otimistas. Agora eu estou tentando expressar esse lado mais escuro, mais grave. Eu sempre tive este álbum em mim”.
Escrito em uma van – enquanto ele cruzava cidades para se apresentar -, o resultado foi um disco mais elétrico e com composições mais despojadas comparado com os trabalhos anteriores. Aliás, enquanto ele compunha os primeiros versos de “Drivin’ Out Of My Mind”, ao volante, ele literamente saiu da pista e foi parado por policiais. O que ele respondeu que estava fazendo? Provavelmente, “drivin’ out of my mind”.
The Blank Tapes – We Can Do What We Want To by playwhitenoise
O modo de gravar não surpreende em se tratando de Matt. Já há um tempo ele trocou os grandes estúdios por um gravador de fitas cassetes mais simples, onde ele consegue gravar oito músicas e conta com recursos mínimos, aderindo ao “lo-fi way of recording”.
“Quando eu comecei a gravar minhas músicas, com 16, 17 aos, usava ferramentas digitais como todo mundo. Mas chegou um momento que aquele excesso de possibilidades me fazia perder o foco. Você fica refazendo a música… para sempre. Era demais para mim”, conta.
Para ele, a possibilidade de gravar em seu quarto, em uma van ou mesmo na garagem, deixa a música mais real, com a “sujeira necessária”. “O lance é saber do que a música realmente precisa. Gosto dos limites que esse formato impões, onde tenho que ser mais criativo”.
Ao longo dos anos, Matt diz ter se tornado um músico e compositor melhor. “A maior mudança é que me tornei um cantor melhor, e as letras melhoraram. Antes mesmo do Blank Tapes, fico constrangido com as coisas que escrevi”, diz ele rindo. “Não sabia o que eu queria dizer naquela época… Não tenho certeza se sei ainda hoje”.
Revirando o baú de Matt Adams
Country Western Honky Tonk Saloon Blues foi lançado de maneira independente e imediatamente começou a atrair a atenção da imprensa californiana. Influenciado por artistas como Leonard Cohen e Velvet Underground, o Blank Tapes passou a integrar a crescente cena do som de raízes americanas que ecoava com artistas contemporâneos como, por exemplo, Lambchop e Ryan Adams.
O disco traz letras falando de aventuras com amigos, amores [I’m Lookin For Love, uma história engraçada de um cara enganado por uma mulher casada e que resume seu problema em uma frase: “estou procurando o amor na cidade errada”] e a eterna busca do seu lugar no mundo [Over the Mountain, com ares melancólicos], com direito a doses de psicodelia [herdada da influência do hard rock] e de humor ora aqui, ora acolá. Como ele diz na faixa “Mama Showed Me Love”: “Mamãe nunca me falou sobre as corporações / Mamãe nunca me disse o que realmente havia lá fora / Muitas vezes me senti confuso e não conseguia me mexer”.
Na faixa “Where Am I Now”, a sensação de deslocamento é latente, e Matt canta: “Sou um turista em minha casa” e “Vai doer andar na ponta dos pés”. Já em “Walking” e “Floating Away”, Matt canta seus destenperos e, no final, não se cansa de repetir “It’s all up to me”. Quase sempre é.
Landfair (2005), segundo disco, traz a banda usando mais guitarras. O formato elétrico só seria mais explorado pela banda em discos mais adiante. Dois anos depois, Matt lançou Friends & Favorites. Um disco melancólico, reflexivo só com covers. Destaques para a delicada “Queen of Valencia”, em parceria com Lauren Cobb, a obscura e bonita “Belly Dancer”, com Kathryn Jensen, “Oceans of Blue” e o folkmantra “Firefly”, com Matt McCluer e Kathryn Jensen.
Em Daydreams, também lançado em 2007, Matt deixa um pouco de lado o violão e volta a apostar nas guitarras, produzindo um disco de rock bem alternativo com riffs e faixas longos – ao todo, são 26 músicas. Talvez seja seu disco com composições próprias mais “sólidas” desde o debut em 2003 e, sem dúvida, um de seus melhores trabalhos.
Em 2008, Matt conta que percebeu que entre parcerias e jam sessions estava tocando em umas 15 bandas. Ele decidiu então que o melhor era juntar todas essas músicas em um álbum. Daí nasceu Universal Western Attractions, um disco com sonoridade diversa – hippie, podemos dizer -, que mostra bem a riqueza do baú musical de Matt.
Agora é esperar as próximas surpresas da caixinha musical de Matt Adams. Para este ano, ele disse que pretende lanar um disco em formato digital. Já para 2012, devem sair dois ou três discos. “Músicas não faltam. Quero colocá-las todas para fora”.