[por Andréia Martins]
Sabe aquele Lanny? Para a maioria das pessoas a quem você fizer essa pergunta, o mais provável é ouvir: “Lanny quem?”.
Pois bem. É com essa resposta que o filme “Sabe aquele Lanny?” pretende acabar — ou pelo menos, diminuir o número de pessoas para quem Lanny é apenas “eu já ouvi esse nome antes”.
O filme de Carolina Calanca — filha de Luiz Calanca, ele mesmo, o dono da famosa Baratos Afins — e Juliana Fumero é talvez o grande presente do festival In-Edit para o público, festival que começa nesta quinta (28) e vai até o dia 8 de maio, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Pronto desde 2002, o documentário de curta metragem integra a mostra “Personalidades” e vem preencher uma lacuna na memória de muitos e fazer uma merecida homenagem a um dos maiores guitarristas da música popular brasileira.
Considerado nas décadas de 60 e 70 o “Jimi Hendrix brasileiro”, Lanny Gordin é para mim, hoje, o nosso Neil Young.
Deixou marcas nos discos de Gal Costa, Jards Macalé, Gilberto Gil e Caetano Veloso, no auge da Tropicália, e tentou deixar antigas marcas de um passado que reúne drogas, depressão e internações de lado, para retornar aos palcos, onde ele continua com sua guitarra em punho ao longo da última década.
Marcelo Andrade, diretor do Festival de Documentário Musical In-Edit Brasil 2011, disse em entrevista à Rádio Cultura na terça (26) que já estava cobrando o filme da amiga há anos. Pronto. Chegou a hora.
Para deixar a festa ainda melhor, uma das sessões de exibição contará com uma performance ao vivo de Lanny.
Homenageados
Esse ano o In-Edit homenageia dois ícones do cinema: Carlos Saura e sua paixão por tangos, flamencos e fados, e o estilo “roots” do documentarista do improviso, Albert Maysles.
Do rock ao clássico, a afinidade de Maysles com o universo musical é comprovada em filme como “Gimme Shelter”, um clássico polêmico do rockumentary sobre a turnê norte-americana dos Rolling Stones, em 1969. Em sua filmografia “musical” também estão Beatles, Wynton Marsalis, Leonard Bernstein, Vladimir Horowitz, Ozawa, Mstislav Rostropovich entre tantos outros.
“Ele foi um pioneiro dessa linguagem ‘uma câmera na mão’, do acaso como roteirista. El acompanhou a primeira turnê dos Beatles, o show dos Stones que acabou em tragédia com a segurança dos Hells Angels, depois, nos aons 70 e 80 ele entrou de cabeça na música clássica. Ele é pioneiro do cinema direto e também registrou momentos históricos da música, o que foi fundamental para trazê-lo”, disse Marcelo na entrevista.
Maysles dará uma aula magna na sexta-feira, dia 6, no MIS, em São Paulo, onde vai contar um pouco da sua história e dos trabalhos feitos.
O argentino Carlos Saura também não precisa de credenciais para ser homenageado. Sua maneira particular de trazer o universo da música para o cinema encheu os olhos da crítica e do público e rendeu nominações ao Oscar e prêmios em Cannes entre outros festivais Música espanhola popular e erudita, canção urbana portuguesa e o tango argentino são alguns dos gêneros abordados no cinema musical do diretor.
“Os tangos, fados e flamencos que ele aborda e as músicas urbanas que tem um certo conflito entre a tradição e a modernidade. No caso do flamenco e do fado você tem nomes ancestrais e no tango, hoje uma nova geração que engloba novos ritmos ao gênero”, diz Marcelo sobre os gêneros musicais que habitam o universo de Saura.
Filmes
O festival chega à sua terceira edição como gente grande. Uma boa pedida entre os gringos é “Who killed Nancy”, de Alan G. Parker (Reino Unido, 2009). O filme aborda a já conhecida história de amor e ódio do baixista do Sex Pistols, Sid Vicious, com a namorada Nancy Spungen.
A lenda diz que Vicious teria matado a namorada. Verdade ou mentira? É isso que o documentário tenta descobrir analisando todas as versões e teorias conspiratórias de um dos casos mais emblemáticos da história do punk.
Baseando-se em uma linha do tempo, o filme contrasta o depoimento de quem estava no Hotel Chelsea naqueles dias e a determinação da polícia em acabar logo com o caso de um pop star entregue às drogas.
Há também a história de sucesso da “Island Records” [Keep on running: 50 years of Island Records], que já lançou nomes como Bob Marley, U2, Grace Jones e Cat Stevens, entre outros, e um documentário sobre o “inquietante” Brian Eno [Another green world], já definido por muitos como o “guru intelectual do rock”.
A Mostra Brasileira também tem opções para todos os gostos. Samba, hip hop, rock, com direito novas exibições de filmes lançados recentemente como “Titãs – A vida até parece uma festa”, “Cartola – Música para os olhos”, o imperdível “Doces Bárbaros” e “O Homem que engarrafava nuvens”.
Programe-se: http://in-edit-brasil.com/2011/