[por Natasha Ramos]
Em seu 12º e mais recente livro, intitulado DJ – Canções para Tocar no Inferno (editora Barcarolla), o dramaturgo Mário Bortolotto escolheu o universo musical para compor seus 25 contos inspirados em canções, que vão de surf-ballads, passando por clássicos do rock, pérolas do blues, algumas já anunciadas nos títulos, outras apenas insinuadas em textos mergulhados na cultura Beatnik.
Os contos são recheados de mulheres, brigas e sexo, tudo isso regado a muito álcool e com pitadas do humor ácido de Bortolotto. No playlist literário de “DJ…”, clássicos como “Stand By Me”, de autoria de Darrel Mansfield, Jerry Leiber, Mike Stoller e Ben E. King; “Another Sleepless Night”, gravada por Neil Sedaka; “Swing On Down”, de Donavon Frankenreiter; “I Drink Alone”, de George Thorogood; “Jealous Guy”, clássico de John Lennon; “Knockin’ on Heaven’s Door”, criação de Bob Dylan; “I Don’t Need no Doctor”, de Ray Charles e “Given the Dog a Bone”, do AC/DC.
Conhecido por suas obras no teatro e nas livrarias, Bortolotto também alimenta, desde 2004, seu blog Atire no Dramaturgo –cujos textos foram reunidos em livro homônimo, lançado em 2006–, além de escrever artigos para jornais como a Folha de S. Paulo. Como se não bastasse, ele ainda encontra tempo para ser vocalista e compositor de duas bandas: Saco de Ratos Blues e Tempo Instável.
O Palco conversou com Bortolotto para saber um pouco mais sobre seu novo livro, suas bandas e como ele consegue conciliar todas essas atividades. Confira o papo rápido com o escritor, ator, diretor, dramaturgo, vocalista e compositor!
Palco Alternativo: Como surgiu a ideia de escrever contos inspiradas em canções de rock e blues no livro “DJ – Canções para tocar no inferno”?
Mário Bortolotto: Eu escrevi um primeiro conto para uma revista. A história de uma garota que é violentada e começa a cantar chorando a música “Stand By me”. Usei o nome da música como nome do conto e a partir daí sempre que tinha que escrever algum conto pensava em algum nome de música. Já tinha a ideia de reunir esses contos depois num livro que eu chamaria de “DJ”.
PA: Como foi escolher essas músicas? Você pensava na música e escrevia baseada nela ou o contrário, escrevia o conto e pensava em uma música que se adequasse a ele?
MB: Teve os dois jeitos. Às vezes a música vinha na minha cabeça e eu escrevia o conto a partir dela. E, às vezes, escrevia o conto e ficava pensando qual nome de música eu poderia usar.
PA: Ao ler o livro, percebi em sua narrativa uma forte influência do Bukwoski. Você gosta dos escritores chamados “malditos”? Além, do Buk, quais outros autores lhe inspiram?
MB: Eu gosto dos escritores que chamam de “malditos” sim. Além do velho Buk, poderia citar Kerouac, Carver, David Goodis, Chandler, Jorge Cardoso, Reinaldo Moraes, Hunter Thompson. Tem uma porrada de escritores que eu gosto.
PA: A maioria dos (se não todos) contos é escrita em primeira pessoa. Os contos são meramente ficcionais ou tem algo de autobriográfico neles?
MB: Como diz o meu amigo [o escritor] Reinaldo Moraes, geralmente é tudo “conficção”.
PA: Além de escrever (este é o seu 12º livro, certo?) você também é diretor de teatro e toca em duas bandas: Saco de Ratos Blues e Tempo Instável. Como você consegue conciliar todas essas atividades?
MB: Gosto de fazer tudo isso. Então encontro um tempo pra fazer. É simples.
PA: Fale um pouco sobre as suas bandas: Quando foram formadas? Você é vocalista e compositor das duas? Qual a sua relação com elas: é mais um hobby ou dá pra ganhar dinheiro tocando? Quais são as suas influências musicais?
MB: Eu tive várias pequenas bandas em Londrina. Gravei um CD lá com a banda “Ked´s” que é o “Cachorros gostam de Bourbon”. É um CD cult. Aqui em São Paulo sou vocalista e compositor de duas bandas, a “Tempo Instável” e a “Saco de Ratos”. Ainda não ganhei dinheiro com elas, mas a gente leva a sério. A “Saco de Ratos” está gravando o segundo CD que vai ser duplo. Minhas influências musicais vão do blues ao rock principalmente, mas eu ouço de tudo (menos música sertaneja e axé).