Com um disco e um EP na bagagem, quarteto mineiro Rocknova vai firmando espaço na cena independente
[por Andréia Martins]
A ideia de montar uma banda de rock é mais ou menos comum a todos os adolescentes, especialmente aqueles muito vidrados em música. No caso dos mineiros do Rocknova a ideia começou a sair do papel há mais ou menos três anos. Sem muito tempo para covers, a aposta foi no repertório autoral.
Em três anos, muito tempo para uns, pouco tempo para outros, a banda soube administrar bem o trabalho. Devagar, foi ganhando espaço e o principal, o gosto do público. Foi a banda mais votada na edição 2009 dos festivais Conexão Vivo (Belo Horizonte e Montes Claros) e Feira Música Brasil (Recife), ambos em 2009. Aliás, a banda vem investindo muito em festivais e em visitas à selva de pedras. Só esse ano já foram três apresentações em São Paulo.
Entre shows, gravações, entrevistas e viagens, em três anos a banda já traz um CD (Rocknova, 2008) e um EP (Diante, 2010). Para esse ano, o quarteto mineiro deve lançar um show diferente em formato acústico, trazendo versões mais intimistas da músicas.
“Acho que as coisas aconteceram no tempo natural. As idéias que surgiram durante esse período foram registradas no tempo devido”, diz Gustavo Lago (voz e guitarra), em entrevista ao Palco Alternativo. André Abi-Saber (guitarra), Xerllez (baixo) e Nenel (bateria) completam a banda.
O EP Diante foi gravado em maio e junho deste ano em Sete Lagoas, depois de um momento de restruturação da banda – o guitarrista Borba, que começou na banda, deu lugar a André – e é uma boa prévia do que podemos esperar do segundo disco da banda. A mudança não passou em branco.
“A nova formação em si já trás uma grande mudança. Um novo membro trás influencias musicais que antes não faziam parte do contexto da banda. É bastante natural que uma nova formação dê para a banda uma nova cara. Acho que fomos nos conhecendo mais e sabendo tirar maior proveito das coisas que temos em comum, assim como das nossas diferenças”, diz Lago.
Diante
As músicas do EP (clique para ouvir)mostram uma banda mais séria, com uma sonoridade mais melódica. O que se percebe é algo mudou na vibração da banda.
“O Diante também me soa mais introspectivo. Acredito que o fato das músicas retratarem questões muito pessoais deram ao EP esse caráter de seriedade. Mas não houve nenhuma intenção pra que isso acontecesse. As músicas foram escolhidas à medida que eram apresentadas a banda. Os arranjos foram criados conjuntamente e a única coisa que eu poderia dizer é que, talvez, a maturidade, adquirida nos três anos que estivemos juntos, tenha me deixado mais sério”, diz o vocalista.
Das seis músicas do EP, destacam-se as músicas Impulso, pela letra, viradas da bateria e guitarras, e Resquícios, e percebe-se em Lago um jeito muito pessoal de cantar. Há de fato, entre ele e suas letras, uma aproximação verdadeira, por mais simples que pareçam ou por estarm relacionadas a questões simples, mas comuns a todos nós.
“Resquícios é uma canção de grande apelo emocional para mim. Trata-se da tentativa de criar novos caminhos a serem compartilhados sem que se leve na bagagem desmazelas passadas. Assim como as demais músicas do EP, ela é uma representação de momentos vividos”, conta o guitarrista.
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Impulso (Diante)
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Fingindo Alegria
Fórmula indie
De olho na ebulição de talentos da cena independente, e não só na música, o Rocknova criou um projeto chamado Fórmula Indie, um espaço para vários artistas se apresentarem. Já foram quatro etapas em 2008 e três em 2009.
“Hoje, o trabalho, não só do músico, mas do artista, de uma forma geral, tem que ir além da produção de suas obras. A dificuldade de encontrar investidores na arte faz com que os artistas tenham que criar mecanismos de divulgação por conta própria. O festival Fórmula Indie, por exemplo, é a nossa tentativa”, conta Lago.
Passaram pelo festival Ricardo Koctus, do Pato Fu, que lançou seu projeto solo de maneira independente, Acústicos & Valvulados, de Porto Alegre, Aerocirco, de Florianópolis, Anacrônica, de Curitiba, entre outros.
“O artista hoje tem que ter iniciativa. Temos que preencher as lacunas que impossibilitam a visibilidade do artista, achando soluções para viabilizar os trabalhos e acho que a união desses artistas, pontuada na pergunta, não é só louvável, mas, sim, fundamental”, diz o vocalista.
Ao comentar a cena independente de Minas, Lago elogia a variedade de bandas. “Particularmente, não me lembro de ter visto, em outra época, tantas bandas unidas tentando criar seu próprio cenário musical. Vários movimentos estão sendo criados em Belo Horizonte, por exemplo, para que os artistas tenham espaço para divulgar seus trabalhos, e esses movimentos são encabeçados por eles próprios, que, felizmente, resolveram apoiar uns aos outros. Isso é muito bom”, diz.
Por outro lado, o músico não deixa de lembrar das “panelinhas” que às vezes dificultam o caminho. “Por incrível que pareça, alguns movimentos que se dizem colaboradores, acabam atrapalhando uma das poucas coisas vantajosas na independência que é a democratização artística. Em Minas isso ocorre de forma gritante. Na verdade, isso ocorre no Brasil inteiro. Mas, como tudo na vida é imperfeito, cada um segue com a garra que tem”, completa.