Eles não usam roupas coloridas, óculos maiores que o rosto, tênis trocados ou calças justas. E nem precisam. Em vez disso, pense em uma bateria de criança, um baixo-guitara, guitarras red neck e letras cantadas em portunhol. Tudo isso numa mistura de punk rock, bolero, música latina e MPB mexicana. Ou algo perto disso.
O Los Pirata, banda natural de São Paulo, formada por Paco Garcia (guitarra), Jesús Sanchez (Fender VI) e Loco Sosa (bateria de brinquedo), é uma das mais e divertidas da cena alternativa. Na estrada desde 2002 e com dois discos na bagagem – entre eles o espirituoso La-Re-vuelta, de 2006, com versões pitorescas de Fire (Jimi Hendrix) e Blackbird (Beatles) – o trio acaba de lançar seu terceiro disco, Les Show.
O disco é resultado de duas semanas atravessando quatro estados norte-americanos (Califórnia, Arizona, Novo México e Texas). “Cidades pequenas do velho-oeste, paisagens desérticas, luzes estranhas no céu e conversas em bares de beira de estrada”, como eles mesmo dizem, serviram de inspiração para o álbum.
Por e-mail o trio – que continua não se levando muito a sério – bateu um papo com o Palco Alternativo sobre o novo trabalho:
Palco Alternativo – Les Show foi gravado num clima roadtrip. O que isso trouxe de diferente em relação aos álbuns anteriores?
Los Pirata – Tínhamos um prazo para compor as canções e conceber o disco. Isso ajudou na maneira de pensar a coisa toda. Deu um ritmo para o disco. Tínhamos um cronograma e concordamos em cumpri-lo.
PA – Li que vocês fizeram o tour à bordo de uma van apelidade de “ballena blanca”. Alguma boa história pra contar durante os trajetos e o que significa esse nome?
LP – Jung puro. O homem dentro da baleia (que era branca, claro). Nossa proteção e nossa caverna. A eterna busca interior. Daí o deserto, na sua plenitude externa, pra contrapor a loucura da experiência. Muitas histórias boas. Conversas em bares obscuros, pessoas interessantes, índios, mexicanos, cowboys, silêncio, estrelas e luzes.
PA – Se tivessem que apresentar o Les Show em uma frase, qual seria?
LP – O melhor disco do Los Pirata até agora, em 2010.
PA – Tive a impressão de que ele está mais pesado que os discos anteriores. É isso mesmo?
LP – Acho que sim. Tem um peso diferente, na verdade. Os discos anteriores possuem um lance mais punk, mais rápido, se é que se mede esse tipo de coisa. Nesse tem mais guitarras e mais vozes.
PA – Sobre as músicas do disco, são mais antigas, foram compostas em algum período especial ou todas são recentes e pensadas para o disco?
LP – O disco foi todo pensado durante a viagem, mesmo que se aproveitando idéias e pequenos pedaços de canções que já existiam. O conceito todo, a cara do album foi sendo moldada durante a viagem.
PA – Qual a história por trás da música Filipino Weird?
LP – Uma babá violenta, festas na beira de uma piscina e muita tequila. Coisa séria.
PA – Muitas bandas brasileiras da cena independente têm tocado no SXSW. Uns vem com mais otimismo, por verem onde a cena norte-americana independente chegou, e outros menos, achando que aqui no Brasil algumas coisas ainda vão demorar… Em relação às duas cenas, o que vocês acharam? Como foi a experiência de participar?
LP – A experiência internacional, seja no SXSW, em tour com outros artistas ou gravando, é sempre pessoal e intransferível. Foi muito bom para o Los Pirata participar de tudo aquilo. Não é só o show que vale. Há uma interação, uma troca muito saudável entre bandas, produtores, gravadoras e afins. Acredito que a “cena independente” aqui no Brasil ainda é jovem. Ainda há muita coisa pra se fazer, pra melhorar. Estamos no caminho. Uma grande lição pra todo mundo é tocar e catar afinado, arcar com compromissos e responsabilidades, se profissionalizar. Ainda há a falácia do “não se levar a sério” no aspecto de fazer algo simplesmente ruim. Isso deve acabar com o tempo.
PA – Vocês estão na estrada com a mesma formação já há uns bons anos. Tem uma receita pra isso dar certo..rs? O fato de vocês tocarem com outras bandas e artisitas ajuda a dar uma arejada?
LP – Enquanto for divertido e verdadeiro para todos os três, está valendo. Mantemos a nossa integridade e temos liberdade pra falar coisas que, em outras bandas, poderiam ser tabus. No meu caso, sim: tocar com outros artistas e ter meu trabalho solo só contribui para que a “experiência Los Pirata” seja mais legal.
PA – Hoje a banda está inteiramente dedicada ao Los Piratas ou ainda rolam participações em outras bandas?
LP – Cada um tem a sua carreira, seus projetos. Ninguém vive da banda, financeiramente. Nunca viveu. Independentemente da questão financeira, como já comentei, possuímos mais tentáculos fora do Los Pirata. Estamos numa fase ótima, curtindo o novo disco e curtindo tocar as músicas novas. Já está de ótimo tamanho.
PA – Sobre o trabalho gravado com o Pélico como rolou o convite para Loco e Sanchez e como foi a gravação concepção do trabalho? É um Los Piratas em versão desacelerada?
PA – Sobre a banda, desde a criação a ideia sempre foi fazer um rock irreverente, divertido e meio nonsense? Algumas faixas desse disco novo, como Marfa Lights ou Pirate’s Lullabie, mostram um lado ”diferente” da banda… é sinal de um novo caminho?
LP – Sempre tivemos um bom-humor e uma loucura rolando. Realmente existem canções diferentes no disco novo. Isso reflete a liberdade que nos permitirmos ter, pra que possamos pensar sem amarras ou receitas pré-concebidas. Liberdade, abre as asas sobre nós!