[por Andréia Martins]
Quem ouve os versos ora doce, ora engraçados, entrevistas e apresentações, não entende porque André Paixão tem o apelido de Nervoso. Mas é nesse misto de calmaria e nervosismo – ainda não identificado – que o batera, fã de Roberto Carlos, o rei, e que já tocou em bandas como Beach Lizards, Autoramas, Acabou La Tequila, Matanza, entre outros, resolveu deixar um pouco de lado as baquetas para assumir o posto de frontman de sua própria banda, Nervoso e os Calmantes.
Em 2004, ele já havia lançado um disco próprio, Saudades das Minhas Lembranças. Um disco raro, com cópias limitadas e que hoje é objeto de colecionadores da cena alternativa.
Cinco anos depois, mais experiência na bagagem, ele reaparece com um novo álbum, Nervoso e os Calmantes, de costuras muito bem feitas e acompanhado de bons amigos – Alê de Morais (guitarra e vocal), Wagner Vallin (guitarra e vocal), Kiko Ramos (baixo e vocal) e Sérgio Martin (bateria, programações e vocal) – e da família.
No disco, músicas refletindo a personalidade da banda e a longa estrad de Nervoso, outras sobre o universo masculino, como em Kit Homem – para quem ainda não identificou ele se resume a ex-mulher, filhos e dívidas – e até um cover de ninguém menos do que Ronnie Von, Máquina Voadora.
Por e-mail, ele respondeu algumas perguntas sobre o novo trabalho. Confira!
Palco Alternativo – Bom, primeiro por que a demora em gravar um novo disco, já que “Saudades das Minhas Lembranças” saiu em 2004?
Nervoso – A demora foi justamente para lançar o disco, pois o gravamos em 2007, um ano após lançar o disco de remixes pela revista Outra Coisa. Além disso, o disco é fruto de uma parceria com a turma do estúdio Soma, ou seja, muita gente envolvida, muitas ideias. Pra completar, a fábrica que prensou o disco atrasou a entrega. Ou seja, fabricar CDs em esquema independente com baixa tiragem hoje em dia é a maior roubada. Tô pensando muito em vinil depois disso…
PA – O que você enxerga nesse disco, em relação ao outro ele traz uma variedade de estilos, elementos?
N – A banda está mais cascuda, os arranjos mais transparentes, o som mais rico, com elementos percussivos e algumas roubadas digitais, combinadas com equipamento análógico (uma mesa Neve broadcast 5104, entre outros periféricos).
PA – Ele traz participações bem especiais, como Bernardo Vilhena, Nina Becker, Stephane San Juan, entre outros. Foi difícil reunir essa galera?
N – Moleza! São todos amigos e paticipantes.
PA – Você já tocou em outras bandas, está na estrada faz tempo. Como está vendo o fazer música hoje, esse acesso mais fácil, ferramentas disponíveis não só pra quem tem uma grana ou uma gravadora por trás?
N – Justamente por ter ficado mais fácil, cresce a necessidade de filtragem por parte do consumidor, assim como surge uma cobrança criativa maior em cima do artista. Fazer boa musica acaba virando um detalhe, quando se tem boas ideias para chamar a atenção. Eu me irrito um pouco com isso, mas ai resolvo pegar meu violão para continuar fazendo o que gosto: música que considero boa.
PA – Li que esse novo trabalho tem uma autodefinição: tropicalismo cinematográfico contemporâneo? Você pode traduzir isso?
N – Na verdade, trata-se de um rótulo. Os jornalistas não adoram rótulos? Pois então: aí está um rótulo que faz menção a algumas de nossas referências: cinema e tropicalismo.
PA – Se fosse escrever um livro de memórias, quais seriam os três momentos mais inesquecíveis desses anos na estrada?
N – Vixe… deixa pensar… o nascimento do meu filho, sem duvidas, é um deles e tem muito a ver com esses anos de estrada, tocar bateria na praça da apoteose antes dos Sex Pistols (o show rolou em 1996, no Riol) foi bem inesquecível também, ter conhecido e conversado com o Roberto Carlos, além de ter entregue uma música que fiz em sua homenagem, também foi arrepiante.
PA – Vocês fizeram até um minidocumentário mostrando as gravações do disco. Sempre quis fazer isso?
N – Sempre. Adoro bastidores, making of, cameras, estudio, tecnologia e interação criativa. Temos um material gigantesco com imagens das gravacoes. Muita coisa ficou de fora desse making of que pretendo disponibilizar em breve.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=QmLG_8pwvfc&feature=player_embedded]
PA – Esse disco, ouvindo, tem um clima muito forte de “feito entre amigos, família”. Essa era a vibe no estúdio e quando você montou a banda?
N – Certamente. A participação dos produtores foi intensa e irmã, além disso, tivemos visitas de muitos amigos e músicos, o que só colaborou com o aumento da bagunça.
Um dos destaques do disco é a música Eu que não estou mais aqui, cujo clipe foi dirigido pela atriz Guta Stresser – a Bebel da Grande Família . Cheio de referências dos espetáculos de mágica do século 19, o vídeo gerou uma exposição legal da banda. O vídeo é quase um curta-metragem e traz um figurino caprichado:
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Lindo clipe , bela música , mais calmante que nervosa >