Gabriel, Fabiano e Gustavo, o Trio Quintina: um trio que vale por uma orquestra
[por Andréia Martins]
Foi entre uma entrevista e outra que o Trio Quintina cruzou o caminho do Palco Alternativo e, de cara, chamou atenção. O trio, formado em Curitiba, em 1997, por Fabiano Silveira (violão 7 cordas e voz) e os irmãos Gabriel (flauta, sax, clarinete, bateria, percussão e voz) e Gustavo Schwartz (guitarra, cavaquinho, percussão e vocais) faz – e espalha – música popular brasileira com uma qualidade musical bem acima da média.
Quintina é um termo musical usado para designar a divisão de cinco notas em um tempo, algo bem incomum quando o que mais se tem são tradicionais divisões pares na música. Da teoria para a prática, como o nome sugere, o Trio Quintina torna-se 5 em 3: cinco instrumentos – violão, guitarra, flauta, percussão e voz – tocados pelos três músicos curitibanos. Agora, no novo disco, Quintina Orquestra Trio, foram necessários 17 instrumentos.Pura multiplicidade.
Os três são músicos estudados. Pela formação musical, passaram pelo rock, pesquisa e estudo da MPB, em toda a abrangência de ritmos que esse termo engloba, com ênfase no choro e samba, além de muita teoria e técnica instrumental.
O resultado não foi uma música com excesso de técnica e pouca emoção ou sensibilidade. Disso tudo, saiu uma mistura rítmica e de influências somada a instrumentos como flauta, guitarra, pandeiro, violão, cavaquinho que remetem a estilos diferentes e aparecem combinados de forma certeira.
Apesar de serem três, ao ouvir, temos a impressão de que se trata de uma big band. Isso porque eles gostam de experimentar e multiplicar instrumentos, seja entre eles ou com uma galera amiga tocando junto.
“A ideia desde o início era manter a formação de trio para facilitar o trabalho em termos de infraestrurtura, agenda para ensaios, cachê e etc. Porém, o nosso próprio nome já define a característica básica do trio de se multiplicar através de mudanças na instrumentação. Essa multiplicação foi levada ao ponto mais neste último CD, onde algumas faixas necessitariam de 17 músicos para executar o arranjo original”, conta Gabriel em entrevista ao Palco.
Quintina Orquestra Trio
Gabriel se refere ao recém-lançado disco Quintina Orquestra Trio, um trabalho que, mesmo depois de mais de 10 anos na estrada e com cinco discos gravados, traz uma bela novidade: a inclusão da bateria nos arranjos.
“Esse é um disco onde assumimos mais nossa influência roqueira nos riffs da guitarra e na bateria. É a primeira vez que incluímos a bateria nos arranjos, nossos CDs anteriores eram mais intimistas e com formações menores. Também é a primeira vez que utilizamos os sopros em naipe, o que caracteriza este som mais orquestral, como uma pequena big band”, diz Gabriel.
O disco traz também um sucesso do primeiro álbum, gravado há 11 anos: a canção Balão Azul. Segundo Gabriel, o plano era dar uma nova roupagem e deixar a música novamente ao alcance do público, já que o primeiro disco – A Caixinha Mágica – não foi muito divulgado.
Outra regravação, dessa vez uma releitura de Tom Jobim, Água de Beber. A escolha, entre tantas opções e caminhos a seguir, deu-se pela canção estar dentro da proposta do disco.
“O arranjo de Água de Beber já existia e traz na sua essência os elementos que citei acima – riffs de guitarra e bateria com influencia de rock. É um grande transformação para um clássico da bossa nova! Acho que isso é muito importante numa releitura. Na verdade, o disco veio sendo concebido através desses elementos e trouxemos isso também para os arranjos das músicas autorais”.
Outras releituras bem-sucedidas foram gravadas pelo trio em um disco duplo ao vivo, em 2001, chamado Ao Vivo Puro. No final desse mesmo ano, o trio encarou o desafio de sair em uma turnê itinerante mambembe passando por Uruguai, Chile e Argentina. Depois, foi a vez de encarar a Europa e tocar em lugares como Espanha, França, Holanda, Suíça e Itália. Por lá, venderam todos os CDs que levaram, conquistando um novo público.
Quem morar ou estiver por perto de Curitiba pode assistir ao Trio Quintina num domingo qualquer, no Empório São Francisco, onde eles têm lugar cativo e tocam desde 1998, ou seja, desde o início. “No inicio éramos a única banda de música brasileira, hoje em dia já tem várias. É um lugar onde as pessoas vão pra dançar e curtir o show da banda de cada dia. Tem uma boa estrutura de som e luz, o que realmente faz com que a banda esteja em destaque”, lembra Gabriel.
Quem está longe pode baixar algumas canções no site oficial do trio ou ouvir no MySpace. Para quem gosta de longos e suaves solos de guitarra, vai a dica de uma das melhores canções do Trio: Belo Horizonte, do disco Pára-Dias de Chuva, 2004. Eles são de Curitiba mas a música é essa mesmo…
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