Por Natasha Ramos
Depois da tentativa de emplacar seu álbum début, homônimo, a banda norte-americana New York Dolls chamou o produtor Shadown Morton (uma das figuras mais inventivas dos anos 60, responsável por hits de girl groups, como Shangri-Las) para trabalhar em seu segundo disco, Too Much Too Soon (1974).
Apesar do relativo fracasso de vendas deste álbum, que culminou com a saída da banda do selo Mercury Records (e nenhum outro selo se interessaria pela banda depois), o New York Dolls foi um dos grupos mais importantes dos anos 70, por ter adiantado o que seria chamado mais tarde de punk rock.
Assista o vídeo de “Lookin’ for a kiss”. Clique aqui.
Pautados no rock’n’roll sujo dos Rolling Stones e no mix de androgenia de Mick Jagger com o glam rock de David Bowie e T. Rex, a banda apresentou uma sonoridade nova, que pode não ter agradado aos ouvidos conservadores da época.
A diferença do primeiro para o segundo disco da banda pode ser notada desde a primeira faixa, “Babylon”, não apenas pela guitarra mais limpa, mas também pelo mix de efeitos sonoros de estúdio e backing vocals femininos.
Ironicamente, em vez de a banda pegar mais leve e entrar nos trilhos do rock progressivo da época, o disco trouxe a energia dos Dolls, com riffs de guitarra cheios de personalidade e vocais ora cantados ora gritados.
Apesar de suas músicas mais conhecidas -“Looking For a Kiss”, “Jet Boy”, “Trash”, “Personality Crises” – serem do disco anterior, Too Much Too Soon foi o disco, da primeira fase da banda, com um trabalho de produção notavelmente mais sério. Depois do lançamento mal-sucedido desse álbum, a banda chamou um novo produtor para seguir com sua proposta, Malcolm McLaren, que ajudou a desenvolver nos Dolls a estética feminina das roupas. Apesar de McLaren ficar conhecido, um ano mais tarde, por abusar da linguagem visual com o Sex Pistols, foi com os New York Dolls que a estética punk/glam teve seus primeiros embriões.
Mas, com o fracasso de vendas de seu segundo álbum, sem dinheiro e sem gravadora, os Dolls estava com o futuro comprometido, e uma briga entre os integrantes terminaria por separá-los.
A banda ficou parada durante 30 anos e retornou com David Johansen, Sylvain Sylvain e Arthur Kane (que viria a falecer de leucemina alguns meses depois), em 2004, graças a um convite de Morrissey, um grande fã dos Dolls. A partir de então, voltaram a fazer shows pelo Reino Unido e Estados Unidos e, dois anos depois, em 2006, lançaram o terceiro disco oficial, One Day It Will Please Us to Remember Even This.
Assim como aconteceu com o álbum début do Velvet Underground and the Nico, os primeiros trabalhos dos NYD não foram bem aceitos pela massa e pela crítica da época por apresentarem um modo diferente de tocar rock. Mas, apesar da demora, a banda finalmente recebeu seu merecido reconhecimento, tendo excursionado em vários países, inclusive o Brasil, em 2008, na turnê de promoção do seu One Day It Will Please Us to Remember Even This.